Etiquetas

Family (30) Work (16) Planning (13) Health and Beauty (12) Home (12) World (12) P... (10) Ambiente (9) Maternity (5) Viagens (4) Economia doméstica (3)

sábado, 19 de maio de 2012

Não há, está esgotado.




  
minha mulher foi operada a um pé.

Segundo a descrição do relatório operatório fez uma “osteotomia metatársica”, ou seja, trocando por miudos, foi tirar o joanete do pé direito que já andava recorrentemente infectado e a impedia de calçar-se.
Uma horita de bloco operatório com anestesia apenas local, embora eu não seja médico, parece-me que a cirurgia não será por demais complicada nem perigosa, mas o pós-operatório pode ser bastante doloroso. Daí o ter-lhe sido receitado um analgésico com um princípio activo específico e adequado.

Teve alta umas horas depois, deixei-a em casa e fui à farmácia aviar a receita. Medicamento esgotado. Outra farmácia, esgotado. Terceira farmácia, havia uma única embalagem. A receita pedia duas, trouxe uma, tive sorte.

Hora de pouco movimento, o farmacêutico teve tempo de me explicar o porquê desta falta de determinados medicamentos no mercado.
Por um lado, as farmácias, sob forte pressão económica, reduzem cada vez mais os stocks. Se o cliente pode esperar, encomendam o medicamento ao fornecedor de manhã e recebem-no à tarde, ou encomendam à tarde e recebem no dia seguinte logo de manhã. Pagam um pouco mais caro – a urgência tem um custo acrescido – mas evitam o ónus de um stock que pode alongar-se no tempo.

Mas há outro factor que faz rarear determinados medicamentos no mercado, explicou o farmacêutico,  porventura mais grave, designadamente para fármacos de forte consumo hospitalar que são provenientes de multinacionais. A pressão negocial do Ministério da Saúde português para baixar os prêços é muito grande e consegue que a delegação em Portugal da multinacional produza certos fármacos a  metade, por vezes a um terço do prêço praticado no país de origem. A delegação de cá, por sua vez, concorre ao fornecimento desses medicamentos a hospitais no país de origem a prêços altamente concorrenciais relativamente a outras marcas. Quando ganham um concurso, os medicamentos podem ser fornecidos com uma mais-valia extraordinária dado que a delegação os obtem a prêço muito mais baixo. Engenhoso, não é? É claro que não consegue é fornecer esse fármaco na quantidade que o mercado nacional consome e, evidentemente, o produto escasseia, quando não esgota mesmo. Os portugueses que tenham paciência...

Mas então – pergunto eu, ingenuamente – e o Ministério, sabendo isso, não faz nada? Não, não faz. A dívida às farmacêuticas é demasiado grande para que o Estado se possa dar ao luxo de as afrontar com exigências de uma eficaz cobertura de mercado. Diz o ditado popular: “Quem não deve não teme”. Acrescento eu: “Quem deve come... e cala”.


quarta-feira, 25 de abril de 2012



UM DIA ESPECIAL


Já lá vão uns bons anos desde que eu comecei a enviar diariamente a um conjunto restrito de amigos uma pequena mensagem a que resolvi chamar “A Laracha Matutina”.

Os amigos são de longa data, do tempo em que ainda andávamos eles de calções e elas de tranças. Algumas nunca usaram tranças, mas enfim, percebem o que quero dizer: eramos todos ainda crianças quando nos conhecemos na escola primária ou no primeiro ou segundo ano do liceu. Passados que são tantos anos, mais de meio século, e a vida de cada um de nós ter dado tantas voltas -- profissional, familiar e até mesmo geograficamente falando – a nossa amizade manteve-se. Não há amizade mais durável que aquela que nasce natural, pura e desinteressada.

A “Laracha” é uma espécie de olá pela manhã. Uma anedota, um cartoon, uma foto, um vídeo, tudo o que tenha alguma piada e que possa servir para dispôr bem no começo de um novo dia. São coisas que vou apanhando na net, aqui e ali, ou que eu próprio escrevo quando estou para aí virado.

Este blog, que originalmente começou por ser um tu cá tu lá com a minha filha “italiana”, tem vindo a ter, surpreendentemente, dezenas, se não centenas, de visitantes e,  mais estranho ainda, espalhados por esse mundo fora, da Europa ao Brasil e Estados Unidos, conforme me vão informando as estatísticas das visitas.

Portanto, porque o dia é especialmente significativo para mim, decidi “abrir ao mundo” – perdoem-me o pretensiosismo da expressão – «A Laracha Matutina» que hoje enviei aos meus amigos.

----------------------------------------------------------------------------------------------------------


Hoje o dia é especial.

Aos Passos, Cavacos, Gaspares, Álvaros, Relvas, Aguiares-Brancos, Moedas, Seguros, Zorrinhos, Cratos, Teixeiras da Cruz, Portas, Motas, Cristas, Macedos, Barrosos, Merkels, Sarkosys & Mais Uns Quantos:


Aos meus amigos, para que nunca – mas nunca! – se esqueçam de como era:


Tenham um bom dia.


-------------------------------------------------------------------------------------------------------------

25 de Abril de 2012.










sexta-feira, 20 de abril de 2012

Hoje Estou de Mau Humor

Este blog a duas mãos -- dois dedos teclantes meus e oito da minha filha que vive em Itália -- era suposto ser uma espécie de tu cá tu lá, contando-me ela da sua vida por lá e dando-lhe eu notícias de como vão correndo as coisas por cá. Isto, claro, para alem do nosso contacto diário, quase sempre via telefone e algumas vezes via skype, estas para irmos assistindo à evolução da neta luso-italiana. Acontece que o quotidiano diálogo telefónico esgota naturalmente as notícias sobre a família e eis que o pressuposto tema-base inicial tem vindo a resvalar, pelo menos da minha parte, para questões político-sociais que me preocupam – que nos deviam preocupar a todos, acho eu.

Hoje estou particularmente negativo.

Os sinais que andam no ar e que o meu radar vai captando através de notícias, debates, mesas redondas (algumas são bem rectangulares) dispersas na comunicação social, alertam para que por detrás daquilo que vai mal há algo, ainda indistinto, ainda meio desfocado, que vai muito mal.

É o FMI que vem constantemente pedir que os governos executem uma política de redução do défice menos agressiva por causa do impacto negativo nas economias; é Mário Monti, num cauteloso discurso, que afirmou a decisão de atrasar em um ano a meta de reequilibrar as finanças públicas em Itália para evitar as consequências dramáticas de uma austeridade excessiva; é George Soros, o multimilionário norte-americano, que acusa uma vez mais a ortodoxia do Bundesbank de estar a levar a Europa à ruína porque, diz ele, “é impossível reduzir a dívida afundando o crescimento”; é na “Quadratura do Círculo”, um debate semanal de análise política nun canal de televisão, com alguns comentadores que se movem na área dos partidos do governo que já alertam unanimemente para os erros que estão a ser cometidos e que estão a arrasar a confiança das pessoas. Sem falar nas múltiplas críticas de todas as personalidades que se situam à esquerda, as quais são de imediato rotuladas de “desvarios da oposição”.

É neste contexto que o ministro da Economia, o nefando Álvaro, apareceu a dizer que o governo “está totalmente empenhado em alterar estruturalmente o país muito para alem do que está contemplado no memorando de entendimento assinado com a troika” -- o que o primeiro ministro corrobora com o seu já famoso “custe o que custar”. É nestes entretantos que o ministro das Finanças, o execrável Vítor Gaspar, afirma à boca cheia em Washington, perante uma plateia incredulamente boquiaberta, que “o caso português serve de lição” a todo o mundo. I-na-cre-di-tá-vel !!

Que sabem estes teóricos engravatados sobre o que se vai passando na vida real em Portugal? Para onde nos levam? Ou melhor, para onde estamos a deixar que nos levem? Continuará a maioria de nós, indiferente ao tsunami que se aproxima, anestesiada em fado, futebol e no diz que disse dos jetsets, crente na omnisciência da classe política que a governa?

Apetece-me citar Mário de Andrade no poema “O Valioso Tempo dos Maduros”:


Contei os meus anos

E descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente

Do que já vivi até agora.

Tenho muito mais passado do que futuro.

Sinto-me aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas.

As primeiras ele chupou displicente,

Mas percebendo que faltam poucas, roi o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.

................................................................................

As pessoas não debatem conteúdos, apenas rótulos.

Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência,

Minha alma tem pressa.

Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana,

Muito humana; que sabe rir dos seus tropeços,

Não se encanta com triunfos,

Não se considera eleita antes da hora,

Não foge da sua mortalidade.

Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade,

O essencial faz a vida valer a pena.



terça-feira, 17 de abril de 2012

A Redução ao Absurdo

Seguia a caminho do meu escritório a ouvir na rádio do carro o programa “Antena Aberta”, uma rubrica diária da Antena 1 que conta com a opinião via telefone dos ouvintes sobre um dado tema. Hoje o assunto versava sobre o impedimento de muitos alunos de continuarem os seus estudos no ensino superior por razões económicas.

Fiquei particularmente incomodado com o testemunho de um padre – salvo erro, chama-se Nuno Santos – dirigente do Serviço Nacional da Pastoral do Ensino Superior, com fortes críticas aos critérios de atribuíção das bolsas e na perda de apoios nos transportes para alunos deslocados.

Dizia ele que há muitos alunos com excelentes capacidades que estão a ser impedidos de estudar e deixam o ensino superior por razões exclusivamente económicas e que «o ensino superior está a ficar destinado exclusivamente a gente com possibilidades económicas e os próximos anos vão acentuar em muito esta realidade». Isto, porque o Estado deixou de atribuír bolsas a alunos cujos pais têm dívidas ao fisco ou à Segurança Social.

Passei a manhã a remoer a questão. Veio-me à memória um caso que conheço de perto por razões profissionais e que ilustra sobejamente o que de absurdo se vai passando por este país.

F e C, operários da construção civil, decidiram montar há cerca de doze anos a sua própria empresa e tornaram-se sócios. Começaram por realizar pequenas empreitadas para construtoras maiores e mais tarde, com os pés mais assentes na terra, arriscaram concorrer directamente a algumas obras postas a concurso pelos Ministérios da Educação e da Saúde e por algumas Autarquias: reabilitação de edifícios e construção de escolas. «Pouco mais tenho que a 4ª classe, mas o meu filho há-de tirar Engenharia, que o rapaz tem boa cabeça», confidenciava-me um dia F, orgulhoso das boas notas do filho no 12º ano. Ganharam alguns concursos, adquiriram algum equipamento novo, admitiram mais pessoal para não falharem os prazos de execução, e deitaram mãos às obras.

O filho de F entrou no ISEL para cursar Engenharia e as filhas de C foi uma para Direito e outra para Farmácia. Todos bons alunos.

Estive um período sem os ver. Encontrei F no princípio do ano e tive dificuldade em reconhecê-lo. Magro, olheirento, cabelo prematuramente embranquecido, cruzou-se comigo junto à estação de Oeiras quase sem me ver. Fomos beber um café e ele lá se abriu comigo. Das obras realizadas para os ministérios, receberam duma um ano depois e da outra dezoito meses depois; das obras para as câmaras municipais ainda nada foi recebido. «Não contavam que o banco lhes falhasse com o empréstimo, dizem eles, talvez me paguem alguma coisa lá para o Verão», desabafou «Mas já vêm tarde. Já perdemos as máquinas e as viaturas por falha nas prestações, despedimos o pessoal sem indemnização e eles meteram-nos em tribunal, falhamos alguns pagamentos a fornecedores de material e as firmas pediram a nossa falência». «E o seu filho?», perguntei eu na esperança de, pelo menos, uma boa notícia. «Olhe, ainda teve alguma sorte, está a trabalhar num McDonald’s perto de Cascais. O que ganha quase não lhe chega para as passagens mas sempre lhe dá para ter uns tostões no bolso», respondeu F com a expressão de quem acha que nem tudo é mau. «Teve foi de deixar de estudar, claro. Ainda concorreu a uma bolsa mas não lha deram. Dizem que eu tenho dívidas ao fisco, o que é verdade. Não paguei algumas contribuíções do pessoal para a Segurança Social e não consegui pagar o IVA das facturas que passei às câmaras municipais», disse com ar pesaroso. «O Estado pagou-me tarde e a más horas; as câmaras, que se virmos bem tambem são Estado, ainda não me pagaram, mas eu não posso falhar nenhum pagamento ao próprio Estado». Com a revolta contida o rosto ruborizou-se um pouco, mas logo abaulou os ombros e a voz saíu-lhe num fio quando questionou, como que a falar de si para si: «Mas, afinal, que culpa tem o meu filho de eu ter dívidas ao Estado?».

Tentei tambem saber do sócio. A mulher foi com as filhas para casa dos pais, lá para os lados de Castelo Brando e C foi para Angola. «Não tenho sabido nada dele, não sei se está bem se está mal, mas olhe, foi o melhor que ele fez, que isto aqui só já lá vai à bordoada», afirmou quando nos despedimos à saída.

De F não tive mais notícias (deixei-lhe o meu contacto mas, estupidamente, não fiquei com o contacto dele), mas, a espaços, como hoje, vou tendo notícias dos milhares de Fs que, cada vez mais, vão abundando no meu País.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

O Hiperactivo

O nosso cão chama-se Júnior.


Em bom rigor, nosso nosso não é. Acontece que, ainda cachorro, a minha nora e o meu filho decidiram ficar com ele, para que o bicho não tivesse o triste fim que lhe estava destinado por ter nascido à revelia de uma “maternidade programada”, e levaram-no para o apartamento onde viviam nessa altura. Compraram-lhe um cesto para lhe servir de ninho e, quando saíam de casa logo de manhã, deixavam-no bem tratado, com comida e água para quase todo o dia até chegarem à noite a casa. As queixas dos vizinhos não tardaram. O Júnior ladrava e uivava todo o santo dia e os estridentes decibéis do seu protesto ecoavam ininterruptamente por todo o prédio. Era insuportável para qualquer ser humano e provavelmente para qualquer ser vivo com o sentido da audição. O ultimato foi breve, definitivo e sem apelo: “Façam favor levem esse cão daqui!” Para onde iria o Júnior? Para nossa casa, evidentemente!


O Júnior – o nome provem de ser parecido com o pai – lá se foi adaptando à nova morada em companhia dos seus progenitores, o Sebastião e a Migalha, que já por cá viviam connosco.

De porte pequeno e perna curta (a sugerir uma remota ascendência basset), a pelagem de um negro luzidio, o cachorro era vivaço e simpático e fazia as delícias dos meus netos que, quando nos visitavam, se engalfinhavam com ele em constantes brincadeiras. Passados que são alguns anos, quando era de esperar que a hiperactividade típica de cachorro fosse acalmando, pelo contrário manteve-se e até redobrou após a morte, já em idade avançada, dos progenitores. Ele corre, salta, rodopia, esgravata em perpetuum mobile abundantemente complementado com sonoros latidos, grunhidos e gemidos. Simplesmente, não pára.

Li há uns dias na revista “Ciência Hoje” que uma tal Joana Bessa, investigadora no Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade do Porto, descobriu que os cães são contagiados pelo bocejo dos humanos e reagem ainda mais se for o seu dono. A investigação põe em perspectiva a ideia que os cães sentem empatia com os seus donos e a tese é fundamentada na existência de complicados estudos neurocientíficos e em ciclos neuronais envolvidos na sensibilidade do bocejo.

Resolvi experimentar. Num dia em que o bichano estava assaz endiabrado, comecei a bocejar, a bocejar, a acompanhar o abrir e fechar da boca com os gemidos característicos de quem precisa urgentemente de fazer uma prolongada sesta. A minha mulher foi dar comigo a dormir meio sentado meio refastelado numa cadeira, a cabeça pendida para a frente, queixo junto ao peito, a ressonar baixinho. O Júnior, esse, qual quê!! Continuava incansável nas suas corridas para trás e para frente, rabo a dar a dar, a ladrar a tudo o que mexe, seja gato, passaroco ou pessoa que passe na rua.

Decididamente, o bicho não costuma ler a “Ciência Hoje”.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

O que fazer quando estamos atolados

Dizia  ontem o meu Pai: então esse blog? Pois... a pergunta é mais vasta: então esses planos, esses objectivos feitos com tanta vontade de mudar de vida? Aqui vai a resposta, em duas partes:

Os objectivos vão de vento em poupa. Sinto só um certo desânimo provocado pelo cansaço e pela falta de resultados visíveis. Sinto-me atolada. Será que estou a seguir o método certo para realizar estes objectivos? Desde o princípio que eu resolvi gerir as minhas expectativas cautelosamente. Na realidade eu não estou a mudar de vida, estou a evoluí-la.

sábado, 7 de abril de 2012

Exaltação da Utopia

Se decidíssemos criar uma nova corrente de vida...

Se conseguíssemos derrubar os muros que temos dentro de nós...

Se nos deixássemos entrar despreconceituadamente no círculo vicioso...

Utopia? Talvez, mas tudo seria mais fácil.

http://www.youtube.com/watch_popup?v=nwAYpLVyeFU&vq=medium#t=77.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Millôr

Tenho o hábito saudável de todos os dias passar os olhos pelos jornais, fazer uma prévia leitura em diagonal e depois aprofundar esta ou aquela notícia, um ou outro artigo de opinião ou editorial.

Tenho o hábito pouco saudável de todos os dias passear os olhos pelos jornais, fazer a tal prévia leitura em diagonal e aprofundar apenas certo tipo de notícias ou artigos de opinião. É a nova legislação a facilitar despedimentos para criar emprego (?) – mais silogismos modernos; é o TGV que às vezes anda e outras não anda; é o sobe e desce dos juros da dívida; é o que se vai passando na Grécia e em Espanha ( e nós tão perto, e nós tão perto); é o quotidiano que nos preocupa.

Tal é a ânsia de aborver informação que me ajude a compreender o que se vai passando no país e no mundo – esforço frustrado dado que tenho a crescente sensação que cada vez compreendo menos o presente, e o futuro, esse, vislumbro-o como uma imagem distorcida em espelho de feira -- que deixo escapar coisas importantes pelo filtro da diagonal.

Refiro o caso, por exemplo, da morte há uns dias de Millôr Fernandes. Foi a 27 de Março e só há pouco vi a notícia, pequenina, escondida, esquecida numa qualquer página interior. Tinha 88 anos.

Millôr foi desenhador, dramaturgo, escritor, tradutor, excepcional humorista, mas foi a sua faceta de pensador, a sua capacidade de sintetisar uma imagem numa curta e aparentemente simples frase -- «viver é desenhar sem borracha» -- que mais me atraíu. Recorrer a Millôr quando estou em dia depressivo, chateado com a vida, é um pequeno bálsamo. O seu cinismo travestido de humor envolve-me como uma camada quitinosa e ajuda-me a enfrentar a hostilidade do ambiente corrosivo em que vivemos mergulhados, porque, assegurava ele, «certas coisas só são amargas se a gente as engole», ou então, «olha, entre um pingo e outro, a chuva não molha».

A ironia sarcástica de Millôr abarcava tudo e todos e era, surrepticiamente, um sinónimo da verdade -- «os nossos amigos poderão não saber muitas coisas, mas sabem sempre o que fariam no nosso lugar». Cáustico, terrivelmente mordente, foi, no entanto, um dos idealizadores do “frescobol”, um desporto onde não existe rivalidade, não há vencedores nem vencidos, jogado cooperativamente, onde se cultiva a amizade e o comprometimento nas jogadas -- «se você agir sempre com dignidade, pode não melhorar o mundo, mas uma coisa é certa: haverá na Terra um canalha a menos».

Centenas de frases proverbiais fazem parte do acervo que nos deixou Millôr Fernandes. Quase todas nos fazem rir, todas nos ensinam alguma coisa: «A gente só morre uma vez, mas é para sempre!» e portanto, «não há problema tão grande que não caiba no dia seguinte».

segunda-feira, 2 de abril de 2012

A hortinha - segunda edição

Este fim-de-semana consegui finalmente dedicar um par de horas aos dez metros quadrados  a que chamo hortinha. Cavei-a com cura e preparei o terreno para as alfaces, o tomateiro, as couves e uns quantos odores de estação. Pode ser uma ninharia para a maioria das pessoas, a mim dá-me uma satisfação que não sei explicar.

sábado, 31 de março de 2012

Poluíção Visual

De vez em quando duas das nossas netas passam o fim-de-semana connosco. Como sempre, é certo e sabido que a rebaldaria de pronto se instala: a sala, os quartos, as casas de banho, os corredores, tudo o que seja espaço útil para brincadeira entra em convulsão, sofre o efeito da passagem de dois furacões chamados Mariana e Inês. Enfim, a casa adquire vida.
Pior é quando os dois furacões se chocam, rodopiam e criam uma quase incontrolável força da natureza. Nessa altura há que inventar processos de acalmia da tempestade.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Os Modernos Silogismos

Nos meus tempos de liceu estudava-se os silogismos aristotélicos.
O silogismo é uma técnica de raciocínio preconizada e desenvolvida por Aristóteles no sentido de atingir a dedução de uma ideia com base numa argumentação lógica. Se bem me recordo, a partir de duas preposições, a que chamava “premissas”, deduzia uma terceira preposição, a “conclusão” – que se designava pelo termo “logo” – indubitavelmente conectada com as duas anteriores.

terça-feira, 27 de março de 2012

A gota

Há dias em que tudo chateia. Desde que me levanto, até que me deito parece que o Mundo está contra mim - ou serei eu a insistir em ser do contra. Nesses dias consigo encher as mãos de provas de uma cabala concertada para por à prova o optimismo mais persistente.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Antonio Tabucchi


Escrever é para mim um acto solitário. Escolher ou imaginar um tema, estruturá-lo mentalmente e, por fim, transformá-lo numa sequência lógica de letras, palavras e frases, exige quase sempre uma concentração, um divórcio momentâneo da pequena realidade que me envolve. Tenho inveja de quem consegue escrever em perfeita comunhão com tudo o que o rodeia, numa festividade de ideias que tocam e acabam tambem por envolver o leitor.
Era o caso, ou melhor, é o caso de António Tabucchi.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Família alargada

Uma pessoa quando nasce tem só uma certeza - aquela de que mais tarde ou mais cedo deverá morrer. O resto - o que se passa entre as duas extremidades da linha vital - improvisa-se. Às vezes o que se improvisa bate certo, outras menos certo, e às vezes corre mesmo mal. Inevitavelmente quando alguém morre fazemos o balanço do que foi bem e do que foi mal improvisado. E se a vida de quem morreu nos tocou de alguma maneira damos por nós a pensar o que poderíamos nós ter improvisado para fazer as coisas andarem melhor para todos.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Autopsicoanálise II


Estava na hora de sonhar acordado.
Subitamente, misturada no turbilhão silencioso de imagens que desfilam fugazes na pantalha do meu consciente ainda meio adormecido, uma sensação fria, estranha, palpável, bem focada, toma forma. O filme rodopiante pára por brevíssimos instantes, o tempo apenas suficiente para reconhecer o meu primo, acabado de morrer, e para ter a absoluta certeza que ele morrera de um ataque cardíaco. Sobressaltei-me. Abri um olho e vi as horas: 6,30. Ajeitei a cabeça na almofada e voltei à letargia do sonho acordado.
Pela manhã, ainda cedo, a filha, a Ana Rita, telefonou lá para casa a dar a notícia.
Acabei de ler no DN online que “ o realizador de rádio José La Féria morreu hoje pelas 6,30 vítima de um ataque cardíaco”.
Sou profundamente racional. A razão segreda-me constantemente que o céu e o inferno, as almas e os espíritos, são conceitos que se alimentam ancestralmente de um dogmatismo religioso cuja veracidade esbarra no meu agnosticismo militante.
Porem, há coincidências que me assustam.

terça-feira, 20 de março de 2012

País de Opereta


A opereta é um espectáculo de estrutura semelhante à ópera. Tem evidentemente algumas diferenças. A ópera é uma peça teatral totalmente cantada por cantores profissionais que têm de saber tambem um pouco de representação; a opereta é uma peça de teatro em que o diálogo entre as personagens é em grande parte falado, isto é, os artistas passam o tempo a representar e cantam só de vez em quando. Enquanto a ópera, salvo raras excepções, envolve uma história dramática e pesada, a opereta tem tambem uma trama dramática mas quase sempre revestida de uma ironia que a torna por vezes cómica. É um sorriso a espaços no meio da história, eventualmente mesmo uma gargalhada, que contribui para que um enredo de tragédia grega seja assimilado de forma mais leve.
Portugal é uma opereta.

segunda-feira, 19 de março de 2012

A canção do Avô Zeca

Hoje penso a todos estes pais:
O meu irmão, o meu primo Carlos, o Pato Donald e o meu tio João celebram o dia de hoje porque são pais uma vez. Foi o primeiro ano em que a Adelaide teve consciência da festa e fez questão de dar em mãos o presente ao seu "pepè".
O Tio Zé celebra o dia de hoje porque é pai duas vezes. Pergunto-me o que terá feito.
O meu cunhado Luís e o avô Elio celebram o dia de hoje porque são pais três vezes. O primeiro com uma casa saudavelmente turbulenta, o segundo com uma vida que momentaneamente lhe foge do controlo.
O Tio Toninho celebra o dia de hoje porque é pai quatro vezes. Imagino o entusiasmo que sente com a sua primeira neta.
O meu pai celebra o dia de hoje porque é pai oito vezes. E encara com satisfação e sentido de humor a bagunça de duas gerações de filhos.
O Ricardo teria celebrado o dia de hoje por ser pai quatro vezes. Penso na dor que sentirá a Patrícia porque o nosso Ricardinho não chegou a conhecê-lo.
O Jacinto teria celebrado o dia de hoje por ser pai oito vezes. Imagino quantas vezes terá o Luis pensado nele, hoje.
O meu avô teria celebrado o dia de hoje por ser pai 11 vezes. O Avô Zeca fazia questão de ser o primeiro a telefonar, quase ainda madrugada, a quem fazia anos. Tinha um entusiasmo quase infantil que desarmava a alma mais dorminhoca (leia-se Carlos) e que o acompanhou até ao fim. Foi a pensar nisso que telefonei ao meu pai hoje não eram ainda as oito de Portugal.

A Escolha

Quando nascemos temos uma herança: a família.
Os amigos, de entre a muita gente que conhecemos ao longo da vida, somos nós que os vamos escolhendo.
Escolhemo-los na infância dos bancos da escola primária ou dos desafios com uma bola de trapos; escolhemo-los na juventude dos mergulhos na praia ou dos bailaricos ao fim da tarde; escolhemo-los nos medos da contestação política; escolhemo-los nos horrores da guerra; escolhemo-los nos interesses da parceria profissional. Nem sempre escolhemos bem, mas somos nós que escolhemos, a escolha é livre, e sentimo-nos bem quando tambem somos escolhidos por quem escolhemos, principalmente quando escolhemos uma companheira.
Famíla a gente não escolhe, é-nos imposta. Quer queiramos quer não, a famíla tem-se, já nascemos com ela, não temos a oportunidade de a escolher antes de nascer. Tios, avós, pais ou primos, bons ou maus, são os que temos e ponto final.
Hoje recordo o meu pai.

sábado, 17 de março de 2012

Os curadores de doenças

Fomos visitar a Giulia ao hospital Villa delle Querce, em Nemi. Foi transferida  ontem para a unidade de recuperação motora. Aqui deverá fazer fisioterapia para voltar a caminhar. Dizem que é um centro de excelência. Dizem... mas referem-se apenas à capacidade técnica dos médicos. Infelizmente é mais um daqueles hospitais onde reina a desumanidade dos curadores de doenças.

Autopsicoanálise

Vá lá saber-se porquê, talvez por mania, talvez por hábito arraigado de muitos anos, todas as noites acerto o despertador para o dia seguinte. É quase um gesto mecânico porque normalmente não necessito de despertador. Deite-me às horas que me deitar chega aquela hora de acordar e desperto. Primeiro, ainda de olhos fechados, começo a pouco e pouco a ouvir os ruídos envolventes de uma casa viva. Um estalar de madeira, o respirar cadenciado da minha companheira, o latido de um cão na rua, o bater da porta de um carro – alguem que teve de saír mais cedo – são o prenúncio da emergência do meu consciente para o novo dia. Através das pálpebras ainda fechadas sinto já a luz do dia que vai entrando timidamente pela janela do meu quarto virada a nascente. É a hora de sonhar acordado.

À rédea solta, num rodopio silencioso, a imaginação vai buscando pontas soltas nos mais recônditos compartimentos da memória, histórias que foram, que poderiam ter sido ou que poderão vir a ser, numa amálgama de passado e futuro. O cérebro está bem desperto, tenho a consciência absoluta que basta abrir os olhos para regressar ao mundo real, à bexiga cheia que exige uma ida urgente à casa de banho ou à dor no braço se me voltar na cama, mas a vivênvia virtual nessa outra dimensão é irresistível. As histórias sucedem-se num tropel sem rumo, envoltas numa bruma de indefinição que não controlo, conjunto de vicissitudes de um eu que observo à distância e no qual não me reconheço.

Os episódios são intensos mas curtos porque, não sei se feliz se infelizmente, chega entretanto a hora do pi-pi-pi do despertador (de há uns anos a esta parte é o telemóvel) e de ligar o rádio na mesa de cabeceira, muito junto ao meu ouvido, o som baixinho, para ouvir as notícias das sete no mundo real.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Reposicionar-nos na escala do consumo

No outro dia numa rara interessante conversa de café alguns colegas de trabalho arengavam sobre o que fazer se a empresa decidir fechar o nosso centro. Haverá quem migrará com o posto de trabalho, mas sendo uma decisão com um impacto familiar grande a maior parte preferiria reinventar-se noutra solução profissional na província de Roma. E quem sabe talvez aprender a viver com menos.
O que significa aprender a viver com menos?

quinta-feira, 15 de março de 2012

A democracia é empenhativa...

Ufa, isto de gerir um blog dá muito mais trabalho do que se imagina. Há um mundo de informação e de ferramentas disponíveis para quem quer fazer qualquer coisa menos amadora. Mas é preciso estudar com afinco para aceder a esse mundo, dedicar horas e horas, investigar, procurar alguém com quem trocar impressões, testar diferentes modelos de layouts, gestão de conteúdos e edição. A blogosfera democratiza o acesso ao mundo da comunicação virtual mas, tal como a liberdade, vem com um acréscimo não indiferente de responsabilidade e empenho.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Seca

Há meses que não chove em Portugal. É certo que caíram umas pinguitas aqui e ali, mas chover, chover, não choveu. Se não chover a sério neste mês de Março, o que infelizmente não se prevê, Portugal estará a braços com a pior seca dos últimos dez anos e o Alentejo e o Algarve serão as regiões mais afectadas, alerta o Instituto Nacional da Água.

terça-feira, 13 de março de 2012

A minha atenção está nos valores

Não quero de maneira nenhuma comparar-me com os nossos diligentes dirigentes políticos, mas também eu estou muito atenta. Mas o que me chama a atenção não é o estado da economia - aliás faço os possíveis por ignorá-la para evitar deixar-me abater pelo peso dos braços. O que me chama a atenção é a crise de valores mais ou menos generalizada.

Como convencer?

Com a crise definitivamente instalada, provavelmente ainda por muitos e bons anos, tornou-se evidente para toda a gente a imprescendibilidade da alteração radical do padrão de vida a que se estava habituado. Ou, se fôr possível, tentar manter um padrão de vida relativamente aceitável gastando menos.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Destralhando: progressos feitos

Continuo na minha longa e árdua tarefa de eliminar os hotspots derivados da roupa. Olhando de longe parece que ainda não fiz nada... e no entanto começo a ver alguns benefícios. A maior dificuldade é a lentidão... sinto-me como se estivesse a puxar uma carroça em subida. Mas pouco a pouco a pilha de roupa que ponho da parte sobe e as gavetas começam a ser suficientes para aliviar os hotspots.

Estão todos muito atentos.

O subtil Ministro da Economia, entrevistado sobre a falta de investimento para relançar o crescimento afirma que “está atento à situação”.
O extremoso Ministro das Finanças, questionado sobre o decréscimo das receitas provenientes dos impostos, declara que “está atento à situação”.
A incansável Ministra da Agricultura, alertada para os problemas causados pela seca, diz “está atenta à situação”.

domingo, 11 de março de 2012

Benvinda Primavera!

A nossa actividade familiar de hoje foi dedicada à Primavera. Foi o primeiro dia do ano, depois do frio e da chuva, em que o prado convidou ao pique-nique e às carícias do sol. Aproveitámos a deixa para  saudar o dia como se deve. Não há nada melhor para renovar a alma que a chuva de sol, deslizando no azul do céu, a cair-nos na pele desprevenida.

sábado, 10 de março de 2012

Dois meses de blog: pedido oficial de feedback!

São passados mais de dois meses desde que pusemos nove dedos e alguma imaginação a trabalhar para fazer este blog. O meu objectivo inicial era quase terapêutico, depois rapidamente evoluiu para criar uma ferramenta de partilha e discussão para a família e amigos. Mais de 1000 leituras e 10 países depois começo a perguntar-me se este pequeno blog cumpre os objectivos estabelecidos ou se porventura terá evoluído para outras direcções. Depois de ter estado a pensar no assunto mais ou menos toda a semana não cheguei a nenhum conclusão. Peço pois a vossa ajuda para compreender melhor.
Qual o contributo que peço a todos os leitores? 1) Respondam à sondagem que está na barra lateral direita: é de escolha múltipla. 2) Publiquem comentários ou mandem mensagens sobre como gostariam que este blog evoluísse.  
Boas leituras e bom fim-de-semana!

sexta-feira, 9 de março de 2012

Um gel de banho mais amigo do ambiente

Quando vou ao supermercado estou sempre à procura de oportunidades para reduzir a minha pegada ecológica. Tomo atenção aos produtos que anunciam inovações ecológicas e salvo quando o preço é vergonhosamente inflacionado (a inovação é uma boa desculpa para cobrar premium por produtos de qualidade média) geralmente escolho a opção mais sustentável.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Era uma vez duas mulheres extraordinárias

Era uma vez a Natália. Era uma vez a Rossella. Conheci a Natália em Timor-Leste, era a "mãezinha" do pequeno grupo familiar que formámos para nos sentirmos menos longe de casa. Conheci a Rossella em Itália, uma óptima colega de trabalho que com o tempo se transformou numa amiga formidável. O que têm em comum? São as duas de uma doçura fora do normal e ao mesmo tempo dotadas de uma força capaz de mover montanhas. Guerreiras anónimas que se destacam da média no combate com o fado que nos toca na roleta russa da vida.

Homenagem

No princípio do sec XX, a absorção de uma grande quantidade de homens nas fileiras da Primeira Grande Guerra Mundial e a necessidade de dar continuidade à Segunda Revolução Industrial então em marcha, ocorre uma incorporação em massa de mão-de-obra feminina na indústria. As condições de trabalho eram tão inseguras e tão pouco condignas que motivaram crescentes protestos por parte das trabalhadoras dando origem nos anos seguintes a enormes manifestações em várias partes do mundo.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Plano Alternativo #1: nome de código "Touro"





Eis que chegam os primeiros comentários (obrigada Pai e Filipa!!), os dois sobre a possível exploração turística do Monte da Bela Vista. Peguemos então no touro pelos cornos (com a devida reverência pelo bicharoco).

Adaptação ou morte.

Uma empresa em Portugal, no norte do país, abriu aqui há uns anos uma fábrica de cobertores. No dia da inauguração, em entrevista a um canal de televisão, garantia o empresário que a sua aposta era numa qualidade sem precedentes. Pouco tempo depois faliu, claro! Cabe na cabeça de alguem abrir uma fábrica de cobertores, mesmo da mais alta qualidade, em plena época de domínio dos edredons? De penas, sumaúma ou malha polar, todos eles leves e quentinhos, quem mesmo é que quer cobertores? Adaptação ou morte é um lema tão válido na Natureza como nas impiedosas lutas da concorrência no mercado.

terça-feira, 6 de março de 2012

O Plano de Back Up

E se eu não conseguir encontrar outro trabalho? Mesmo que não me possam mandar embora assim sem mais nem menos (pelo menos enquanto não mudarem a lei dos despedimentos), a minha situação actual não é sustentável a longo prazo. Se eu tivesse um plano alternativo poderia tentar uma fuga para frente. Ou seja, aceitar a maldita indemnização que mais tarde ou mais cedo formalizarão e enveredar por outro feliz percurso profissional.
Este é o meu primeiro esforço para deixar a ironia de parte e começar a coleccionar ideias. Ajudem-me a gerar ideias, quantas mais melhor. Vale tudo, mesmo as ideias improváveis. ACEITO TODO O GÉNERO DE CONTRIBUTOS!! 

Gato Escaldado...

O Expresso online de hoje noticia que a estação de televisão britânica “Channel 4” exibiu um vídeo gravado secretamente num hospital militar da cidade de Homs, na Síria.
As imagens mostram homens vendados presos às camas por correntes ferrugentas, feridos com sinais de agressões brutais e com o pénis atado para impedir que urinem, um chicote e cabos elécticos sobre a mesa de uma das salas. O autor secreto do vídeo relatou que as vítimas são tanto militares como civis, alguns muito jovens – um deles com apenas catorze anos – e que as formas de tortura (explica pormenorizadamente algumas que eu me abstenho de reproduzir) são arrepiantes.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Saber delegar #3


 

Creio que o meu tema preferido da organização da casa é: delegar, delegar, delegar! Eu delego o mais possível, tal como já aqui referi diversas vezes: na senhora que vem duas vezes por semana (pelo menos enquanto a puder pagar), nos maravilhosos electrodomésticos dignos de prémio Nobel. E hoje falarei de como é importante saber passar trabalho ao Pato Donald.

Há Direitos Adquiridos e Direitos Não Adquiridos

Em Agosto passado passei várias vezes na Ponte 25 de Abril e paguei portagem. Durante muitos anos, já nem me lembro desde quando, houve isenção de pagamento de portagem em Agosto. As razões apresentadas para esta isenção variavam consoante quem as justificava. Uns asseveravam que era uma política social governamental: evitar os longos engarrafamentos a quem quisesse usufruir das praias da margem sul, facilitando as férias dos portugueses, blá blá blá, blá blá blá. Outros explicavam que a concessionária tinha que dar férias aos portageiros e não lhe era rentável cobrar as portagens nesse mês.
Fosse por que razão fosse, porem, o Estado (todos nós) acordou sempre em compensar a concessionária, a Lusoponte, pela receita não cobrada em Agosto.

domingo, 4 de março de 2012

Um mimo no futuro

Hoje investi no mimo do futuro. Ou seja, em vez de dedicar tempo a mim mesma, dediquei-o a outra pessoa que estava muito mais necessitada. E se as leis do Universo não estiverem demasiado baralhadas, o bem que fiz retornará em triplicado. Ficarei à espera, mas sentada, pois o Universo ultimamente tem estado um bocadinho estranho.

Vencer na Vida

Do blog “Tempo Contado” , de Rentes de Carvalho (senhor de uma prosa inteligente e bela mas ácidamente pragmática, de um pão-pão-queijo-queijo que por vezes chega a ser irritante, autor de uma obra que eu leio e admiro e cujo blog sigo com a frequência possível) transcrevo, com a devida vénia, o seu post de sexta-feira passada com o título “Exame”.
«Um bem sucedido homem de negócios, conta da sua juventude na grande propriedade agrícola da família, na província de Groningen, no norte da Holanda, e surpreende-nos com o curioso exame a que o pai submetia os rapazes que o procuravam em busca de emprego.
Mandava que aparecessem na manhã seguinte, às seis, e punha-os no trabalho mais duro, a ver como se comportavam e do que eram capazes. Ao fim do dia convidava-os para o jantar, que nesse tempo, e como ainda hoje nas casas de lavoura por lá é costume, reunia a família em torno da mesa onde fumegava uma única e grande panela. Dadas as graças, servia-se o pai, depois dele os presentes, todos à uma, cada um procurando o melhor bocado.
Inconsciente da prova a que o submetiam, se por acaso ou modéstia aguardava vez, estava o candidato perdido, pois o patrão nem esperava pelo fim da ceia para lhe dizer que não voltasse, e do dia de trabalho, não recebia paga, tinha sido à prova.
Emprego garantido era para aquele que, empurrando os de casa, arrepanhava o que podia logo depois do patrão, dando mostras da boa mentalidade para vencer na vida.»
Julgo que intencionalmente, o autor não emite qualquer opinião nem deixa vislumbrar qualquer juízo de valor sobre o exame praticado pelo patrão da casa, limitando-se a classificá-lo de “curioso”. Ou seja, o leitor, uma vez assimilado o conceito da tática do empregador, tem a natural tendência de tecer os seus próprios considerandos sobre a bondade do processo.
O leitor fecha os olhos e pensa então que eram outros tempos, que a atitude de suplantar a concorrência de forma tão ignóbil, violenta até se necessário, só é admissível numa sociedade insensível e buçal digna de um far west americano; pensa que hoje as coisas não se passam da mesma forma, que o candidato a um emprego que assim procedesse era o primeiro a ser excluído; pensa que agora vivemos numa sociedade civilizada que privilegia a modéstia e a correcção no tratamento social; pensa, enfim, que o conceito de vencer na vida é hoje diferente.
Quando abre os olhos, porem, o leitor olha à sua volta e constata que o só uma omnipresente hipocrisia impede de dizer-se que o actual conceito de vencer na vida é diferente do que prevalecia na mente do patrão daquela propriedade agrícola no norte da Holanda.

sábado, 3 de março de 2012

Madagáscar no feminino

Hoje a nossa actividade familiar foi dedicada a outros. Fomos à inauguração de uma exposição sobre a obra da Gialuma em Madagáscar, visitável no palácio Chigi de Ariccia. Uma imersão na realidade, odores, ambiente e histórias de um dos países mais pobres do mundo.

A  Gialuma é uma associação sem fins lucrativos fundada por um casal de médicos que se dedica a dar assistência médica gratuita e a melhorar as condições sanitárias e educativas de uma parte muito desfavorida da população de Madagáscar - famílias monoparentais, tipicamente a mãe com uma média de 6 filhos para sustentar. Vale a pensa conhecer um pouco mais sobre o trabalho desta associação, aconselho vivamente uma visita ao website da Gialuma.

A Adelaide adorou o vídeo (contava a história de tantas meninas como ela) e a exposição com aromas exóticos e artesanato de lindíssimo. Odores que enquadram os ambientes de sonho dos turistas mas que escondem situações de miséria (quase) sem esperança. E o quase depende do trabalho das associações como esta que trabalham para tirar as crianças da rua, e quem sabe prolongar a sua infância por mais um par de anos.

saí desta experiência com vontade de olhar mais criticamente o meu estilo de vida. Como dizia a Luana (uma das médicas fundadoras da  Gialuma), a nossa falta de trabalho preocupa-nos, mas é diferente da deles, que tem consequência imediata para a sobrevivência física; A fome deles é muito diferente do nosso apetite; As nossas estruturas de saúde imperfeitas dão-nos mais 20 anos de longevidade.

Abreijos


Para lá do Marão (4)


Fomos a Chacim ver o Real Filatório.
Antes disso, perto de Macedo de Cavaleiros, mais exactamente em Peredo, uma pequena povoação na estrada de Macedo para Mogadouro, fomos almoçar ao Saldanha. Por fora só dá por ele quem já o conhece. O interior, porem, mostra-nos um restaurante relativamente espaçoso. Uma das paredes decorada com um incrível conjunto de velharias – utensílios agrícolas torcidos, panelas de cobre empoeiradas, um relógio de cuco parado, lanternas ferrugentas, rádios desmembrados, caçadeiras sem gatilho – parece incompatível com outra parede completamente forrada por todos os prémios, louvores e outros encómios ganhos pela arte da sua cozinha. (Consta que o dono canta o fado – prova que o fado mesmo transmontano continua a ser bem português – mas o homem estava ausente). Especialidades da casa: posta mirandesa e cabrito assado. Felizmente nenhum de nós é vegetariano como a minha filha João e pedimos o cabrito. Bem tostado, acompanhado com batatinhas coradas e vinho tinto da região, tudo excelente. Umas laranjas muito doces para desenjoar e o remate de um bom café.
E lá abalamos para Chacim.
O Real Filatório foi uma das infra-estruturas mais importantes da indústria europeia de produção de seda e chegou a empregar centenas de pessoas no sec XIX.
Projecto pensado ainda no tempo do Marquês de Pombal, o complexo industrial veio no entanto a ser desenvolvido já no reinado de D. Maria I e esta região transmontana foi a escolhida por ter um micro-clima propício à plantação de amoreiras. Foi introduzida uma tecnologia de vanguarda e, segundo dizem as crónicas, eram produzidas as melhores sedas e brocados de qualidade reconhecida em toda a Europa.
Depois, a nossa História está cheia de “mas” e “depois”, vieram as invasões francesas, a corte foge para o Brasil, atropelaram-se as posteriores perturbações políticas e sociais da guerra civil entre liberais e absolutistas e, finalmente, em meados do sec XIX o Real Filatório entrou em decadência e cessou actividade.
Hoje restam as ruínas -- quatro fortes paredes de pedra sem telhado – e algumas amoreiras. Mesmo ali ao lado a autarquia decidiu criar um Centro Interpretativo e uma espécie de museu que mostra as peças fundamentais da fábrica: teares, tornos, fusos e o célebre “moínho redondo” que não sei exactamente o que era mas, segundo li, constituía o cerne da tecnologia de ponta implementada.
Não cheguei a ver nada disto porque o museu estava fechado. Porque é que não fiquei surpreendido?
É difícil imaginar que naquela longínqua e quase desabitada aldeola onde o elemento que impera é o silêncio trabalharam, não há tanto tempo assim, centenas de pessoas numa fábrica plena de vitalidade. Fogo fátuo de uma Revolução Industrial que ainda hoje parece não ter chegado ao Nordeste Transmontano.
Coisas que se passam para lá do Marão.
filatorio (6)

sexta-feira, 2 de março de 2012

Sou uma crocodila vegetariana

Dizem que ser vegetariano é uma das melhores coisas que podemos fazer pelo meio ambiente. Como eu me tornei vegetariana por outros motivos, nunca pensei muito no assunto. Fui investigar e gostei do que li, fez-me sentir ainda melhor com esta minha opção de vida.

Para lá do Marão (3)


A Capa de Honra de Miranda do Douro é um traje regional lindíssimo.
É uma peça feita de burel, um tecido de lã batida, de corte muito elaborado mas austero. A capa propriamente dita é comprida, ampla e aberta na frente. Tem depois uma sobrecapa toda bordada e pespontada que desce até à altura do cotovelo e termina em franjas muito largas. O traje é completado por um capuz inteiramente bordado que termina numa faixa larga tambem bordada e rematada com uma franja. Esta faixa é denominada a Honra.
O tamanho da faixa e a riqueza do seu bordado era indicativo da importância, do estatuto social do seu utilizador. Era uma divisa que simbolizava o nível da sua posição hierárquica entre os seus pares e era tacitamente reconhecida por todos.
As Capas de Honra menos elaboradas, menos perfeitas, eram tambem usadas pelos boieiros para se protegerem da chuva e do frio e para nelas se deitarem quando descansavam. Eram peças semelhantes, de um mesmo uniforme, mas indicativas de uma posição hierárquica mais baixa.
Em qualquer dos casos, porem, a Capa de Honra transmite uma imagem de nobreza sóbria e austera, conferindo a quem a veste um sentido inequívoco do Dever.
A Mãe apreçou uma, bem bonita por sinal, mas desistiu. Era muito "pesada"...
Coisas que se passam para lá do Marão.