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terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Reflexões

Enquanto tomávamos o pequeno almoço, ouvíamos as notícias da manhã e comentávamos, a Mãe e eu, a insensibilidade que vai grassando entre alguns lideres por essa Europa fora.
Quem põe um povo perante um dilema entre a ajuda financeira e a dignidade nacional, ignora as lições históricas fundamentais – disse, diplomaticamente, o ministro das finanças do governo grego, a propósito da “sugestão” avançada por essa nefanda bola de berlim que dá pelo nome de Merkle, da nomeação de um comissário europeu para “orientar”, mas com poderes de vetar, as decisões políticas do governo grego. Isto é, a nomeação de um ministro plenipotenciário para, em nome da Europa (leia-se Alemanha) governar uma Grécia colonizada.
A Mãe, menos diplomática, com os olhos a chispar, evidenciou de imediato a sua reacção se algo de semelhante algum dia fosse proposto ao nosso país: “Nem que comesse relva !! Nem que comesse relva !!”
A caminho do escritório, fui rememoriando esta conversa matinal. Qual seria efectivamente a reacção maioritária do nosso povo perante uma situação idêntica? Se se tratasse de marcar uma posição contra o tradicional inimigo castelhano, não tenho dúvidas que rapidamente se constituiriam novos conjurados de 1640 a recrutar, através do facebook e de sms, voluntários para novas aljubarrotas. Contra “eles" a espinha dorsal lusitana endireita-se, os sinos tocam a rebate e logo soa “a tuba canora e belicosa que o peito acende e a cor ao gesto muda”. Mas contra os alemães? Será que a atitude generalizada seria muito diferente da dos nossos representantes eleitos que, venerandos e obrigados, parecem poodles de estimação atentos à voz da dona: Senta! Salta! Rasteja! ? (Os políticos são como as prateleiras, quanto mais altos estão mais inuteis se tornam). Haveria suficiente orgulho nacional a transbordar do peito e a gritar que podemos quebrar mas não torcemos?
Quero crer que sim! Acho mesmo que já vamos sentindo “uma raiva a crescer-nos nos dentes”.

Hábito implementado: Planning das Rochas e Hábitos

Para não perder o focus nos objectivos que estabeleci para 2012 preciso de uma metodologia que me me recorde constantemente o que pretendo atingir e que simultaneamente me permita medir de maneira simples os meus progressos.  O meu hábito de planning de Janeiro veio natural para responder a esta necessidade:
Fiz uma tabela numa folha Excel, em que mantenho na primeira coluna as 5 Rochas definidas (mais uma sexta, de planeamento). À frente de cada Rocha está escrito o objectivo específico. E à frente de cada de cada objectivo está uma célula dividida em 12 linhas (uma por cada mês), onde eu anoto os hábitos mensais correspondentes àquele objectivo. Deixei também espaço para anotações relativas aos resultados, dificuldades, etecetera.  Não sei como deixar aqui o ficheiro para fazer download a quem estiver interessado, quando descobrir como se faz aviso.
Esta tabelinha imprimi-a e colei-a na capa do minha agenda personalizada (HHN - Household Notebook). Assim está sempre à mão para ser consultada, ou para anotar comentários metodológicos ou de resultados.



Alguém por aí utiliza metodologias semelhantes?

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Nada a fazer...

Hoje não tenho mesmo assunto nem inspiração. Procurei, pesquisei, rebusquei por todos os cantos do meu cérebro e não encontrei coisa alguma sobre a qual valha a pena escrever. Sei que haverá temas interessantes, antigos, modernos, reais ou fictícios, engraçados ou nem por isso mas, por qualquer razão que me ultrapassa, todos me parecem inócuos e sem graça. Hoje lanterna alguma consegue emprestar um pouco de luz a este vazio de ideias. É um daqueles dias cheios de nevoeiro interior em que se não consegue vislumbrar qualquer vulto, mesmo difuso, que se assemelhe a uma estorinha, pequena e enfezada que seja.
Encolho os ombros e refastelo-me mentalmente, na esperança que o nevoeiro levante amanhã mal nasça o sol.

Destralhei a bancada da cozinha

Foi mais fácil do que imaginei: ao longo deste mês todas as noites, como parte da rotina da noite deixei a bancada da kitchenete a brilhar.
Vantagens óbvias: sabe melhor sentar-me no sofá e tenho mais orgulho em receber visitas.
Outras vantagens: obrigou-me a arranjar espaço para a reciclagem. Mantenho um saquinho pequeno debaixo do lava-loiças, quando enche ou se torna demasiado grande vai para fora de casa. Obrigou-me a ser pragmática com os frascos e afins reutilizáveis: ou cabem no canto dos frascos (uma prateleira dentro da península) ou falo coração ao largo e vão para reciclar. Obrigou-me a arranjar sítio para para os panos na loiça - dentro de uma das gavetas ao lado do fogão. Aprendi que o limpa-vidros multiuso  funciona melhor para fazer brilhar a bancada de granito do que o spray específico das superfícies. Agi de consequência: dei baixa do spray limpa superfícies e arranjei espaço debaixo do lava-loiças para todos os outros detergentes que normalmente se acumulavam ao pé da janela. E por fim arranjei espaço para os tabuleiros de forno também debaixo do lava-loiças - assim quando uso o forno já não tenho o monte de formas e tabuleiros a ocupar metade da bancada.
Agora já consigo cozinhar tranquila, fazer biscoitos ou qualquer outra coisa para a qual preciso de usar a bancada. E para além de arranjar espaços para a tralha, a única coisa que alterou a minha rotina foi a de despejar a reciclagem todas as noites - o Giuliano instalou ao pé do compostor um pequeno ecoponto que esvaziamos semanalmente.  

Não tirei a fotografia do antes, mas podem imaginar...
sacos da reciclagem ao pé da janela;
panos, pegas e afins em cima da bancada direita;
embalagens, garrafas, frascos e outros reutilizáveis ao lado do frigorífico .
Está muito melhor, não está?
Digam-me vocês se têm alguns bons exemplos de "destralhamento"  semelhantes!
Beijocas.

domingo, 29 de janeiro de 2012

O Síndroma de Chaplin

Chaplin era genial ! Alem de actor, realizador, produtor, escritor, músico, dançarino, ele tinha como nenhum outro o dom da comédia. Sempre com humor, tirando partido de uma subtil pantomima, punha a nu os graves problemas de uma sociedade em plena transformação, desde as contradições de uma revolução industrial em curso, até à ascenção das ideologias hitlerianas. As imagens dos seus filmes, sem necessidade de texto, derrubavam qualquer barreira linguística e eram compreendidas em todo o mundo.
Recordo, por exemplo, a inolvidável caricatura do operário de Tempos Modernos que passava dias, semanas, meses, com uma chave inglesa em cada mão, unicamente a apertar as porcas que deslizavam perante ele, sem parar, numa linha de montagem. De tal modo que, quando um dia terminou o seu turno de trabalho e saíu para a rua, não conseguiu dominar o tique automático das mãos e acabou a tentar apertar, como se fossem porcas, os botões do casaco de uma senhora que passava perto.

Esta cena começou a vir à minha memória desde que a Mãe, todas as noites depois de jantar, se senta em frente à televisão a fazer tricot. Deita de vez em quando um rabo de olho ao programa, vai trocando um ou outro comentário comigo, e tricota, tricota, tricota, em movimento contínuo, uma agulha em cada mão, cadência rápida e precisa. Tricota tudo e mais alguma coisa: camisolas, coletes, meias, barretes, pantufas, para as filhas, para as netas, para as amigas, para as netas das amigas. Num simples serão consegue tricotar um par de sapatilhas como as que estão na imagem.

Dada esta produção em série, quase industrial, eu penso que isto já não é tricotar, é tetracotar ou pentacotar.
De forma que, francamente, tenho andado com algum receio que de um momento para o outro se revele alguma crise aguda do Síndroma de Chaplin e a Mãe saia para a rua com as mãos a dar a dar como se tivesse e acabar urgentemente uma encomenda para alguem.
É sabido que estas doenças assim como aparecem tambem desaparecem e a minha esperança é que a Mãe ultrapasse rapidamente a fase do tricot e, como não consegue estar parada, parta para outra. Mas por enquanto, pelo sim pelo não, sempre que saímos juntos eu levo um saquinho no bolso do casaco. Se lhe der alguma crise, estarei assim pronto para aparar as moedinhas que as pessoas derem à aleijadinha.
Nos tempos que correm não se pode perder qualquer oportunidade para equilibrar o orçamento familiar.




A Salada Perfeita

Se bem se recordam, o meu hábito de Janeiro para Saúde e Bem Estar foi substituir uma refeição diária por uma salada. Não fui super fiel a esta resolução... Ao princípio organizei-me super bem. No trabalho é mais fácil cumprir, na cantina têm sempre à disposição salada, iogurte e fruta e as alternativas não são muito melhores. Em casa as tentações tocam-me de mais perto... Ou são os restos que a Adelaide não come (será que o meu inconsciente cozinha a mais de propósito?); Ou é a necessidade improvisa de comer arroz com ovo; Ou é o pão fresquinho a pedir para ser molhado no ovo estrelado. Saltei a saladinha só três dias (estava mesmo necessitada), mas nesses três dias comi como uma lontra.
Enfim... 27 dias de salada não está mal. E nem me fartei, consegui fazer saladas muito saborosas. A salada perfeita tem 4 segredos:

  1. a variedade de ingredientes (por exemplo, a que está na fotografia têm cenoura, tomate, milho, beterraba e finocchio)
  2. a apresentação (dar de comer aos olhos ajuda a satisfazer o cérebro)
  3. o condimento (azeite, vinagre, sal e pimenta)
  4. o pão. Sim imagino já os comentários: o que tem o pão a ver com a salada? Que é que vos hei-de dizer... o azeite estava a pedi-las!

Vantagens da salada? Não perdi peso, mas surpreendentemente deixei de ter as constantes dores abdominais. E desinchei. Decididamente um hábito a manter!!


Esta foi a nossa salada do jantar de ontem. 
A maionese e o fiambre é para manter o Giuliano no engano...  

Beijocas!!

sábado, 28 de janeiro de 2012

A Importância do assento agudo

À época, o quintal da casa de Belem tinha bastantes mais canteiros do que tem hoje e era por ali, entre algumas flores e muitas ervas, que o Jeremias se anichava.
Tinha sido encontrado por acaso no leito da ribeira que nasce na serra de Grândola e passa, a caminho do mar, a uns cinquenta metros da nossa casa de férias no Alentejo. Escassa de água, que só corre quando chove, na maior parte do ano a ribeira apresenta apenas, aqui e ali, vestígios da humidade residual dos charcos mais persistentes. Era por aí que o Jeremias se arrastava certamente em busca da água vital à sua sobrevivência.
Quem o encontrou foi a Riquelina, a vizinha que vivia e ainda vive a uns trezentos metros da nossa casa. Mulher da terra, dona de uma insensibilidade pouco comum mesmo numa região em que a subsistência exige absoluto pragmatismo no modo de vida, a Riquelina pegou no Jeremias e largou-o no fundo de um bidon vazio que tinha servido, provavelmente, como recipiente de gasóleo para o tractor. Sem comida, sem água, sujeito ao calor concentrado naquele contentor de paredes metálicas, o Jeremias agonizava. Quando ela nos contou a novidade fomos vê-lo. Cientes que se ali ficasse depressa morreria, quisemos trazê-lo para Lisboa ao que a mulher acedeu com um encolher de ombros.
O Jeremias arrebitou e rapidamente se ambientou ao nosso quintal onde vivia camuflado entre as plantas que as minhas filhas tinham o cuidado de manter sempre húmidas de tão regadas. Já não me recordo por que razão é que elas o baptizaram de Jeremias mas, valha a verdade, o nome assentava-lhe que nem uma luva. A dada altura - juro que é verdade - o Jeremias dava pelo nome e vinha ter connosco quando o chamávamos. Estendia a cabeça e - continuo sob juramento - aceitava pacificamente e mastigava deliciado pedacitos de salsicha e de chouriço como se nunca tivesse comido outra coisa na vida. Durante algum tempo o Jeremias foi a mascote da casa.
Um dia, há sempre um dia em que o que não queremos acontece, o Jeremias, talvez tomado por uma súbita ânsia de conhecer outros mundos, rastejou sem que dessemos por isso por baixo do portão do quintal que dá para a rua e desapareceu. Ainda o procuramos longamente, rua abaixo, rua acima, mas para tristeza de todos nunca mais o vimos. Ficou apenas a sua recordação para contar esta história.
Ah! Já me esquecia de dizer a quem não sabe: o Jeremias era um cágado e era tudo menos o que a palavra significaria se não tivesse o assento agudo.

Hábito implementado: somos bloggers!

Penso que se oficializou a coisa: somos bloggers! Não é  tão difícil quanto isso encontrar algo sobre o qual escrever todos os dias, o segredo é não intelectualizar. Não complicar sobre como escrever nem sobre o que escrever. Serve qualquer coisa que queiramos partilhar uns com os outros: uma opinião, uma memória, um sentimento ou simplesmente uma fotografia. O importante é não ficarmos mudos. E se um dia não tivermos energia física, mental ou tempo para escrever também não faz mal, recupera-se no dia a seguir.
A mim faz-me bem escrever. Desabafo, troco umas ideias, sinto-me menos só e menos incompreendida. E tenho muito prazer em partilhar este pequena coisa com o Pai. Quem sabe se no futuro mais alguém se junta a nós?
Mãe, que dizes de dares umas dicas sobre organização da casa, partilhares umas receitas, contares uma história?
Carlos e Patrícia, porque não publicam algumas fotografias e vídeos do Ricardo?
Sandra e Luís, porque não contam as desventuras das vossas viagens, trabalhos, ideias, filhotes?
Também gostaria de ter novidades da Filipa - como se estará a ambientar em Israel?

Beijocas!

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Hábito implementado: Guardanapos de pano

Não é o que eu tinha inicialmente planeado, mas acabou por acontecer assim. O meu hábito de Janeiro para melhorar o Mundo foi voltar a usar guardanapos de pano.
Por princípio não gosto de usar coisas descartáveis (usa e getta, como se diz em italiano). Parece-me um grande desperdício deitar fora qualquer coisa que se pode reutilizar. E parece-me também uma grande falta de respeito para com a Natureza comprar qualquer coisa para deitar fora. Não tenho solução para o papel higiénico (nem me apetece pensar no assunto....), sou muito relutante relativamente aos lenços de papel (os de pano dão-me percepção de falta de higiene) e o papel de cozinha é muito prático. Os guardanapos de papel, pelo contrário, sempre me pareceram um grande desperdício quando comparados com os de pano. Não tanto pelo volume de lixo que fazem (degradam-se em dois ou três meses) mas porque não vejo grande vantagem na sua utilização. Para quê sacrificar árvores e gastar dinheiro em guardanapos descartáveis quando os de pano são mais elegantes e eficientes?
Dirão os cépticos que os guardanapos de pano também poluem, que se gastam tantos recursos naturais na produção do algodão ou do linho, que se deve ter em conta o que se gasta em água e detergente para lavar. Bom, não pretendo papaguear os números dos economistas ambientais que compararam os custos ambientais dos guardanapos de papel e dos guardanapos de pano, até porque se tratam apenas de estimativas com grandes margens de erro e baseados em pressupostos não necessariamente verdadeiros. Mas visto que eu uso guardanapos herdados de outras gerações (avó Ivone e tia Laura) a amortização dos custos de produção já foi há muito saldada. E como lavo os  guardanapos só uma vez por semana (parece-me razoável),  a máquina de lavar está sempre cheia e lavo a temperatura baixa, o custo ambiental relativo à reutilização dos guardanapos de pano é com certeza menor que o dos guardanapos de papel. Resta a questão do quanto é prático. Bom, creio de dependa de cada um. Repito, no que me diz respeito não vejo grande utilidade nos guardanapos de papel.
Dizem os especialistas que o custo ambiental do uso de guardanapos de papel nos restaurantes é menor que os de pano (porque nos restaurantes se lavam após uma utilização). Talvez. Mas nesse caso por favor evitem abater árvores para isso... usem guardanapos de papel reciclado! Eu tenho sempre em casa um pacote de guardanapos de papel reciclado (para as eventualidades). E compro papel higiénico, lenços de papel e papel de cozinha da mesma marca.

Beijocas!

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

O "Sá Carneiro"

Era Dezembro e estava frio. Tinhamos acabado de jantar e, alinhados em semi-círculo à volta da lareira da sala, absorvíamos atentamente as notícias que, minuto a minuto, eram actualizadas na televisão: o Primeiro Ministro acabara de morrer num acidente de avião. Com ele seguiam o Ministro da Defesa e mais pessoas, ainda não se sabia exactamente quem, alem do piloto e do co-piloto. Todos tinham perecido num impressionante amálgama de ferros torcidos que as imagens iam documentando.
As consequências desta tragédia eram tema de conversa com os meus primos que tambem tinham jantado connosco: quem iria suceder como Primeiro Ministro, quais as repercussões na campanha em curso para a Presidência da República, qual o futuro da coligação governamental, enfim, a natural discussão em face de tão dramático acontecimento. As minhas filhas, pequenitas de dez e oito anos, sentadas no chão em frente à lareira, acompanhavam excitadas as notícias e as conversas.
Duas ou três horas depois, os meus primos consideraram que a hora já ia adiantada, vestiram os seus abafos e deram as boas noites. Acompanhei-os à saída mas mal abri a porta da rua entrou um gato pela casa dentro. Era grande e tigrado. Não correu, não saltou, não miou sequer, simplesmente entrou em passo lento e decidido, cabeça e cauda bem levantadas, olhos majestosamente focados em frente, atitude de dono e senhor. Passou junto a mim sem me ligar a mínima importância e dirigiu-se à sala. Parou junto à lareira, encarou cada um dos presentes embasbacados, fixou mais longamente os enormes e rasgados olhos verdes nos olhos das minhas filhas e, calmamente, enrolou-se frente ao borralho. E diz a minha filha mais nova, fazendo jus da sua fértil imaginação e sensibilidade à flor da pele: "Parece mesmo o Sá Carneiro. Será o espirito dele?"
"Sá Carneiro" ficou. Não tinha coleira, ninguem na vizinhança se queixou do desaparecimento de gato de estimação, mas era indubitavelmente um bichano urbano. Amistoso q.b., não dava muita confiança. Miava - um miado apenas - quando queria saír para fazer as suas necessidades ou quando considerava que estava na hora da sua refeição. Uma vez satisfeito voltava a deitar-se, cabeça pensativa sobre as patas cruzadas como que a decidir o futuro imediato.

Dois dias depois, conforme entrou assim saíu e nunca mais o vimos.

Ainda hoje, de vez em quando, dizemos por piada que o espírito de Sá Carneiro passou lá por casa antes de seguir viagem para a eternidade, mas nem sempre sorrimos ao dizê-lo.


Nos sapatos dos outros

Ter a capacidade de se pôr nos sapatos dos outros é condição sinequanone para a Empatia e é sinal de inteligência emocional. Se todos tivéssemos esta capacidade o Mundo andaria muito melhor.
Beijocas


quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

A Sinusoide da Vida




A<0
Em 1966, sufocado pelo ambiente abafado de uma ditadura ainda longe do estertor e com a família a viver uma situação económica difícil, emigrei.Na altura não era considerado emigrante quem fosse tentar vida nova em qualquer dos territórios de alem-mar administrativamente geridas pela "metrópole" de um Portugal já em guerra mas que ainda se dizia "uno e indivisível". Fui para Angola, uma terra situada no meio de um imenso e enigmático continente a muitos milhares de quilómetros de distância da minha Lisboa natal. Num mundo em que não existiam telemóveis nem internet, em que qualquer tipo de comunicação à distância era difícil e morosa, foi psicologicamente doloroso o corte do cordão umbilical quando embarquei no cais de Alcântara. Fui de navio, claro! O avião era um luxo incomportável. Esperavam-me tempos de difícil adaptação. O clima, o modo de vestir, os hábitos sociais, a hostilidade camuflada da maioria negra, tudo era diferente.

A>0
Ambientei-me. Comecei a dar aulas, criei amigos, participei em tertúlias, assisti a festas tradicionais indígenas onde aprendi novos sons musicais, pesquei tubarão numa frágil canoa, mergulhei para apanhar lagostas à mão, corri o meio mundo daquele extenso país, vi animais selvagens no seu habitat natural, atravessei o deserto, ultrapassei savanas, subi íngremes montanhas e vivi alguns dos melhores momentos da minha vida.

A<0
Inexoravelmente, a roda que nos comanda continuou a mover-se. Obrigado a voltar a Lisboa, suspendi o futuro durante um período de três anos: um ano a aprender sobreviver e dois a pôr em prática a aprendizagem numa guerra sem nexo. Mas como tudo tem um fim, a minha participação nesse filme de horror tambem terminou.

A>0
Levantei a suspensão do futuro e comecei a adaptar-me a uma vida em paz. Finalmente senti que havia segurança para criar família. Após um período de indefinição profissional, ingressei numa empresa, preocupei-me em adquirir formação rigorosa, trabalhei intensamente e em dois anos atingi o topo da hierarquia. Ganhei muito dinheiro. Comprei um carro novo, comprei casa, comprei um segundo carro, aos fins de semana percorriamos as melhores pousadas do país, férias nos melhores aldeamentos do Algarve. A família ia crescendo.

A<0
Subitamente, fui enrolado num turbilhão e tudo se desmoronou. Bendita Revolução que acabou com a guerra e com a ditadura e criou espaço para se começar a construir pilares de uma nova sociedade. Mas, como em qualquer revolução, a instabilidade imperou durante muito tempo. Com a empresa destroçada e uma responsabilidade familiar entretanto ampliada, obriguei-me a abraçar a primeira oportunidade: uma actividade para a qual nunca estive talhado, que me consumiu muitos anos de vida e que, por fim, me obrigava a "arrastar longas e penosas correntes nos tornozelos". Depois, outra actividade que me obrigava a ficar a semana longe da família. Depois, outra ainda, o investimento num empreendimento que parecia prometedor mas ao qual o mercado não aderiu e que resultou em forte prejuízo financeiro.

A>0
Renasci das cinzas e mergulhei de cabeça como sócio noutra empresa. Obtive informação, estudei muita legislação, actualizei conhecimentos e voltei a criar uma posição profissional requerida e uma imagem reconhecidamente boa. Paguei todos os prejuízos financeiros do descalabro anterior e pensei que a partir daqui poderia começar a usufruir do que ganhava.

A<0
Engano! A roda continuava a mover-se e o período T entrava no seu percurso abaixo do eixo das abscissas. Nada a fazer, a crise mundial estava aí.

É claro que em tudo é preciso ter um pouco de sorte, não fosse a Vida um jogo. E eu tive a sorte de ter sempre a meu lado, nos bons e nos maus momentos, uma extraordinária Companheira. E, nesse capítulo, posso dizer que na sinusoide da minha vida o A esteve sempre positivo.

Todo este relambório para dizer o quê? Que, minha filha, a roda gira, gira, e tu, alcandorada num dos alcatruzes da nora, não estarás sempre por cima, mas tambem não estarás sempre por baixo.





A independência do trabalho



É difícil estabelecer objectivos intermédios para o que preciso de mudar na minha vida profissional. Muito simplesmente, preciso de mudar de trabalho. Aquele onde estou transformou-se num pesadelo. Sempre que saio de casa para ir trabalhar sinto-me como se arrastasse longas e penosas correntes nos tornozelos. E chego ao fim da semana que tenho vontade de dormir um mês seguido. Vale a pena? NÃO!
Para ser independente não é qualquer trabalho que serve. A independência tem quatro vertentes:

  • Financeira - ou seja garantir um mínimo de rendimento
  • Vida - ou seja ter tempo livre para ter vida para além do trabalho; implica um horário de trabalho honesto (em vez de horário de escrava); que seja  não muito longe de casa; e por fim um trabalho que me permita manter uma residência fixa (em vez de forçar-me a mudar de país como quem muda de projecto) 
  • Intelectual - ou seja que me permita viver de acordo com os meus princípios (por exemplo nada de laboratórios in vivo...)
  • Emotiva - dignidade, respeitoreconhecimento e segurança são essenciais. Basta de mobbing, não quero ser tratada como um burrico - a cenoura à frente, o pau nas costas.

Devia-se dar como contado que isto é o mínimo a que um trabalhador honesto tem direito. Pois bem, não é assim. O meu actual trabalho garante três destas vertentes. A financeira e a intelectual  são base. Deram-me a escolher entre ter Vida ou ter estabilidade emotiva. Eu escolhi a Vida... e agora estou à procura de outro trabalho.
A maioria dos trabalhadores qualificados como eu decide à partida desistir de uma das vertentes da Independência (normalmente o ter vida própria) e viver infelizmente resignado com uma carreira madrasta. mas não vejo que sejam mais felizes do que eu. E eu quero ser feliz.
Dizem que no Norte da Europa é diferente, dizem que a cultura do trabalho escravizador é muito do Sul. Será? Não sei. Também diziam que a solução era emigrar.  
Pela primeira vez na vida dou por mim a pensar que se pudesse não trabalhava.
Abreijos
Janica Marques
 Estou zangada? Amarga? Triste?
Preocupada? Tudo isto ao mesmo tempo.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Adoro a Marginal

O meu percurso diário casa-escritório-casa é sempre o mesmo. Sou uma pessoa de rotinas? Sim, talvez um pouco. Mas neste caso, o que me leva a optar sempre pelo mesmo caminho é o prazer de percorrer a Marginal.
Saio do meu bairro - uma espécie de aldeia em plena cidade - e desço a Rua dos Jerónimos ao cabo da qual viro para contornar a Praça do Império. Olho à minha direita a enorme fachada do Mosteiro, passo em frente ao Centro Cultural de Belem e, finalmente, penetro na Marginal em direcção a Cascais.Tecnicamente, aquele troço de estrada até ao limite do concelho de Lisboa, até entrar em Algés, tem o nome de Avenida da Índia mas para mim já me sinto na Marginal.
Rolo quase sempre a baixa velocidade. Se é de manhã ainda cedo, vejo desfilar à minha esquerda a silhueta recortada na bruma da Torre de Belem. Alguem, já não me recordo quem nem porquê, definiu-a como "pão, pão, queijo, queijo". Nunca percebi bem o significado desta expressão, embora a veja utilizada com muita frequência: "Eu cá não sou homem de meias tintas, sou pão-pão-queijo-queijo !" Será este o significado, o que é , é, o que não é, não é; branco branco, preto preto, sem cinzentos? Mas então a Torre de Belem é uma coisa em forma de assim?
Curiosamente, a estrada contínua que é a Marginal foi ganhando nomes, quase palmo a palmo, ao longo de todo o seu percurso. Na "recta do Dafundo", logo a seguir a Algés e depois de passar o Aquário Vasco da Gama, é onde invariavelmente sou ultrapassado pelo comboio que concorre comigo na ferrovia paralela à estrada. Do outro lado da linha, por desporto ou por necessidade, já há gente a pescar - dizem que a taínha pica bem naquela zona do rio. Chego à "curva do Jamor". Paro no semáforo e alguns alunos de Faculdade de Motricidade, madrugadores, que fazem a sua corridinha matinal, aproveitam para atravessar a estrada. À minha esquerda encavalitam-se os soturnos armazens da antiga fábrica de fermentos holandeses, há muito desactivada. À direita estende-se o enorme complexo desportivo do Jamor.
Cai o verde. Ponho-me em andamento e sigo em direcção à "Gibalta", local onde se situa um farol e onde nos anos cinquenta do século passado ocorreu um terrível acidente. Um desmoronamento de terras provocou o descarrilamento do comboio do qual resultou um elevado número de mortos e feridos.
No "Alto da Boa Viagem" a vista sobre o mar é deslumbrante. O mar - é mais ou menos por ali que acaba o rio - imita o colorido do céu com um toque muito pessoal: se azul, adiciona-lhe milhões de reflexos dourados; se de chumbo, acrescenta-lhe um verde raiado de espuma branca. Mas o mar, mesmo quando alteroso, é sempre belo.
Mais à frente, já em Caxias, numa pequena enseada a que deram o pomposo nome de "Baía dos Golfinhos", perfila-se a sentinela atenta do Forte de São Bruno que em tempos, emparceirando com o Bugio lá ao longe no meio das águas, ajudava a suster os ataques da pirataria que rondava Lisboa.
Depois da "curva dos pinheiros", designação adquirida pela existência junto à estrada de dois ou três pinheiros retorcidos pela ventania que frequentemente fustiga aquela zona, passo ao longo da vedação da Escola Náutica, em Paço d'Arcos, e aproximo-me do sítio, em frente à praia de Santo Amaro, onde tenho que virar para o interior, onde fica o meu escritório.
A Marginal prolonga-se por muitos mais quilómetros, mas é por aqui que eu fico.



Difícil é ser original



Que estranho sentir o Pai dizer que tem dificuldade em escrever... Lá em casa sempre gozou da fama de ser ele o talentoso da família. Se é difícil para ele, imagine-se para o resto dos comuns mortais como eu...
Será porque não me preocupa grandemente escrever de maneira brilhante, mas para mim o difícil  não é escrever. Difícil é ser original. Escrever algo que não seja a repetição de uma opinião de outrem, um espelho de uma ideia mais do que debatida ou a colagem de uma história bem sucedida.
Por exemplo, tenho tantas histórias na minha imaginação. Histórias que começaram se calhar inspiradas por livros, filmes ou sonhos - já nem me lembro quais,  quando ou como. E depois evoluíram, cresceram comigo, fugiram-me de mão e agora praticamente caminham sozinhas, sabe-se lá em que estradas tortuosas dos Mundos da imaginação. Mas no fundo tenho sempre medo que uma mente mais perspicaz consiga identificar as sementes inspiradoras e me acuse de plágio, e esse medo impede-me de tentar escrevê-las.
Compenso a falta de originalidade planeando com antecedência o tema sobre o que devo escrever -  sim, a Rainha dos plannings já sabe o que vai escrever para as próximas duas semanas! Assim dou-me tempo para ter tempo de maturar uma opinião. Não quer dizer que caso uma boa ideia me surja eu não saia do plano para lhe dar espaço, mas pelo menos não sou apanhada desprevenida sem ter uma ideia própria.
Boa noite!!

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

O Difícil Parto Diário

Tenho uns minutos, meia hora no máximo, para dar o meu contributo de hoje ao blogue. Isto é, escrever qualquer coisa com princípio, meio e fim e que seja minimamente interessante para quem lê.
Nunca fui capaz de escrever depressa. Nunca teria futuro como colaborador de um jornal para o qual tivesse de parir quotidianamente, sem falhar, um artigo capaz de ser publicado, lido e apreciado por leitores assíduos. Ou é o assunto que não tem pés nem cabeça, ou é o vocabulário que não é o adequado, ou é ainda a frase que está demasiado longa. Volto atrás, elimino e reescrevo. Leio em voz alta o que acabei de escrever. Não me soa bem. Os sons estão desarmónicos, o ritmo não tem vivacidade. Apago. Reescrevo. Depois é a memória que se diverte em me negar um sinónimo, é um significado que não tenho a certeza de que é correcto e precisa de ser conferido. Finalmente, termino um parágrafo. Leio-o. Fico surpreendido com o número de palavras repetidas. Apago e escrevo tudo de novo? Não. Talvez com um ou outro retoque a coisa passe. Acrescento aqui, corto alem, altero um adjectivo, substituo um tempo verbal e passo ao parágrafo seguinte na certeza que será outra dor de parto.
O principal, o início de tudo é descobrir um tema, é ter uma história para contar, uma ideia para pôr o texto em marcha. Dir-se-á que o que não falta de hoje em dia são motes prontos a ser glosados. A crise, as promessas ocas nos discursos dos políticos, os tropeções verbais da Manuela Ferreira Leite, as queixas lacrimosas de insuficiência de ganhos do presidente da república, enfim, um sem número de temas picantes para muitos bloggers. Serão objecto para outros dias. Hoje não. Hoje já ultrapassei a meia hora pré-destinada.

O método FLY para a organização da casa



Lembram-se do meu objectivo "Transformar a casa no meu refúgio zen"? Pois bem, reconheço a minha natural inaptidão para arrumar, organizar e etecetera a casa. Será que o meu esquema mental  funciona noutro registo, será o meu cérebro que automaticamente me abstrai do que não considera importante e me impede de ver o caos, será preguiça, eu sei lá... o que eu sei é que a capacidade caótica da casa tende para o infinito e a maior parte das vezes eu nem sei por onde começar para torná-la mais confortável e harmoniosa. Antes isto não me preocupava minimamente, mas agora com a Adelaide a perspectiva alterou-se. Primeiro porque a simples presença da Adelaide elevou à quinta potência a capacidade caótica da casa. Segundo porque me chateia não ter as coisas organizadas para que a Adelaide possa usufruir delas com serenidade. Terceiro porque de há uns tempos para cá fico claustrofobicamente bloqueada com a falta de espaço devida ao acumular constante de coisas fora do sítio. Quarto porque quero mesmo que a minha casa seja acolhedora, para quem cá vive e para quem visita. A visão metafórica que me inspira é a "experiência spa em casa".

Este é o ponto de partida... 


Há um par de meses atrás, enquanto surfavo pela internet à procura de soluções de organização caseira mágicas deparei-me com um site - FlyLady.net - que oferece um método baseado no estabelecimento progressivo de hábitos. Parecia feito de encomenda para mim! E assim comecei a estudar e implementar os princípios básicos deste método. Bom, surpresa das surpresas, funciona!! Não é uma solução mágica mas é bastante simpática e divertida na maneira como afronta as frustrações de quem não nasceu com o talento da organização.
No primeiro mês - Novembro - limitei-me a ler umas coisas e a estabelecer o hábito de abrilhantar o lava-loiças. O benefício imediato foi o de maximizar o uso da máquina de lavar loiça e de ter a sala mais apresentável.
No mês de Dezembro dediquei-me a fazer algum planning para adaptar as minhas rotinas matinal, seral e   de noite aos princípios básicos do método.
E no mês de Janeiro alarguei o hábito de abrilhantar à bancada da cozinha. Como vai? Darei contas no final do mês!

domingo, 22 de janeiro de 2012

Um banho relaxante



Ahhh.... Nada melhor do que um bom banho quente a meio da tarde de Domingo. Começo com um scrub no corpo inteiro e  uma máscara hidratante para o cabelo. E mergulhada em núvens de espuma e sais perfumados, acendo uma vela ambiente, beberico um chá e leio um livro. 20 minutos de paraíso por semana. Saio do banho e sinto-me capaz de correr a maratona, de tal maneira me carrega de energia.
Um dia pensei... o que pode ser melhor do que partilhar este pequeno prazer com a minha pequenina Maria Besnica? Uma óptima oportunidade de construir a excelente relação mãe-filha a que aspiro: brincamos no banho, faço-lhe uma máscara hidratante aos cabelos (tratamento de beleza a duas, que giro), cócegas nos pés, conto-lhe uma história com os livros plastificados, pintamos a manta as duas na banheira. E depois chamo o Giuliano, passo-lhe a Pimpolha para os secar, vestir, e etceteras e tais menos divertidos mas inadiáveis enquanto eu termino o meu merecido banho na paz dos deuses.
Até ao dia em que encontrei uns OFI (objectos flutuantes identificados) a boiar na água do meu imaculado banho... Ao princípio eu não queria acreditar, tive que os observar de mais perto para ficar convencida. Mas por fim a realidade atingiu-me inexorável: a minha Gajinha agora não espera outra coisa senão a hora do meu banho para pôr o esfincter anal a trabalhar! Mal entra na banheira, senta-se com o ar mais feliz do mundo e enquanto alonga o braço cândido para pegar nos brinquedos, pela extremidade oposta vai libertando minas espaçadas com precisão matemática. Não, não é um ataque, dizem os especialistas. A água quente age como estímulo aos intestinos dos bebés - mas vá-se lá saber porque é que a água quente do banho do Giuliano não surte o mesmo efeito.

Mudança de estratégia imediata: Cada uma toma o seu banho. A Adelaide lá continua de vez em quando a fazer cocó na banheira, mas pelo menos não durante o meu banho!
Alguém por aí tem experiências semelhantes?


Relaxes, há muitos.

Outro relax tranquilo: preguiçar em casa
Não gosto de me levantar tarde mas ao domingo, de vez em quando, sabe mesmo bem ouvir as sete badaladas no relógio da sala, graves, lentas, cadenciadas, a ecoarem por toda a casa, depois as oito, mais tarde as nove, e continuar enrolado sob o edredão, de olhos fechados, semi-desperto, a apagar do bloco-notas mental as tarefas que no dia anterior me tinha proposto fazer.
Antes ainda de abrir os olhos, volto-me para o outro lado e preparo-me para mais uma dose de limbo. Infelizmente, a urgência de uma bexiga cheia chama-me à realidade. Apenas com um olho aberto, arrasto-me até à casa de banho e é o esforço de concentração para não urinar fora da sanita que me faz acordar de vez.
Está quebrado o feitiço. O duche morno dissolve definitivamente os últimos vapores do sono e recomeço a listar no bloco-notas mental as tarefas que ainda me é possivel executar depois de dar de comer ao cão e, acompanhado pela cara-metade, tomar eu próprio o pequeno-almoço: aspirar e lavar os carros que, de tão sujos, pouco falta para se transformarem em viveiros de cogumelos, fazer pequenas reparações que a mãe me pediu já há uns dias, lavar o quintal dos presentes que o Júnior, com infalível periodicidade diária, deixa para mim.
Há dias, porem, que a vontade é mesmo preguiçar. Os carros que esperem - mais cogumelo menos cogumelo, não será por isso que ficarão parados na estrada - as reparações não são prioridade absoluta e para quê limpar hoje o quintal se amanhã estará ma mesma?
Sento-me no sofá da sala - o meu, mania à Archie Bunker - faço um zapping rápido na televisão mas nenhum programa me atrai, folheio um livro mas não completo a leitura de uma única linha, ligo o computador mas não chego sequer a abrir as mensagens, aguardo pacientemente pelo almoço e preguiço, preguiço, preguiço... Lá fora, por vezes, um céu de chumbo e uma morrinha suave mas persistente ajudam a tarde a arrastar-se, lenta, indiferente, absolutamente improdutiva. Relax mais tranquilo não conheço.
O dia seguinte será outro dia.

sábado, 21 de janeiro de 2012

Relax tranquilo: almoçar fora



Hoje fomos almoçar fora, só para nos distrairmos tranquilamente. O nosso restaurante habitual - Il Palozetto - estava fechado, de maneira que fomos a um concorrente na mesma rua - Renata e Pietrino. Comemos bem e simples, o Giuliano "Bucatini all'Amatriciana", eu "Trenette in salsa de carcioffi" e a Adelaide "Fettucini al sugo". Aqui cozinham bem comida típica dos Castelli Romani, mas para dizer a verdade prefiro restaurantes mais simples com mais alternativas vegetarianas e menos careiros. No final das contas por três pratos de massa,  vinho da casa, água e uma fatia de bolo de chocolate pagámos 40 euros. Em Itália custa sempre tanto comer fora. Mas é uma actividade familiar que sabe bem de vez em quando. Antes desta crise íamos quase todas as semanas almoçar ou jantar fora. Agora não o fazemos mais do que duas vezes por mês. Mesmo que ainda não tenhamos sentido na carteira o peso da crise, mesmo sem termos falado no assunto começámos a apertar os cordões à bolsa.
Também começámos a controlar mais de perto a despesa semanal do supermercado. Planear o menú semanal ajuda porque praticamente não deixamos estragar nada. Antes quantas vezes comprávamos verdura ou fruta que acabava por se estragar! Agora não, planeando o menú semanal, faço a lista das compras de acordo com as necessidades. Mesmo assim ainda gastamos em média cerca de 80 euros semanais no supermercado - menos 20 do que antes.

E vocês, que estratégias adoptam para poupar sem impactar o divertimento e o frigorífico?
Beijinhos

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

O que faço quando destilo fel?



Hoje também eu destilo fel. Para tanta gente zangar-se é um escape, uma espécie de terapia. A mim em vez faz-me mal, desespera-me. Odeio ver tudo negativo, odeio quando o copo parece sempre meio vazio. Podendo decidir, escolho a felicidade. Escolho ser feliz, sentir-me bem comigo e com o mundo. Fácil falar... difícil de seguir, principalmente quando uma parte importante da nossa vida não bate certo e o estado do mundo não ajuda. O que fazer então, esperar que a vida dê mais uma volta para poder ser feliz? Não - decidi há muito tempo que a vida é aqui e agora, porquê esperar para ser feliz? Até porque quando se espera, espera-se sem garantias, como alguém disse "a vida, feliz ou infelizmente, é caminho para o qual não há mapa nem bússola".

O que faço então nos dias em que destilo fel, nos dias em que "os pontapés do Destino, os dos semelhantes, e os trambolhões" me fazem desesperar ao ponto de ver tudo negativo, triste, feio e sem esperança? Concentro-me no particular. Se a visão do global é ofuscada pela tristeza, pela depressão,  pelo desespero, pelo medo, insegurança, paranóias ou por qualquer outra das "vozinhas" que teimam em bloquear-nos, concentro-me a olhar para os pequenos particulares que me satisfazem. Como ouvir uma música, dançar, (re)ver um filme, ver o por do sol, fazer qualquer coisa pela Natureza, fazer terapia do pelo, fazer um bolo, passear, fazer uma tisana, apreciar um chá, cheirar uma flor, aproveitar os 10 minutos de Sol que despontaram para termoregular com o resto das lagartixas. E se mesmo assim a tempestade de pensamentos negativos não abranda? A derradeira estratégia é teletransportar a minha mente para um mundo diferente, um mundo imaginário criado por mim, onde eu nem sequer existo. Invento histórias, personagens, heróis, amores, guerras.
Justamente dirão: e em que é que isso resolve os problemas da vida real? Não resolve, obviamente. Mas permite-me sobreviver feliz enquanto as voltas da vida continuam a judiar dos meus planos impecáveis.
Abreijos

Hoje Destilo Fel

Em 1867 escrevia Eça de Queiroz n”O Distrito de Évora” a sua periódica colaboração:

Ordinariamente, todos os políticos são inteligentes, escrevem bem, discursam com cortezia e pura dicção, vão a faustosas inaugurações e são excelentes convivas. Porem, são nulos a resolver crises. Não têm a austeridade, nem a concepção, nem o instinto político, nem a experiência que faz o estadista. É assim que há muito tempo em Portugal são regidos os destinos políticos. Política de acaso, política de compadrio, política de expedientes. País governado ao acaso, governado por vaidades e por interesses, por especulação e corrupção, por privilégio e influência de camarilha, será possível conservar a sua independência?.

145 anos passados, será justo que se diga que alguma coisa mudou nos políticos actuais.

Na realidade, de um modo geral pouco escrevem e, quando escrevem, usam uma sintaxe intencionalmente rebuscada para confundir a grande massa de iliteratos que infelizmente continua a abundar no nosso País. Falar, falam muito. Os chefes papagueiam as fórmulas que lhes foram ditadas pelas instâncias bruxelenses ou quejandas e os subalternos megafonam as mesmas teses à exaustão até que se tranformem em verdade, por mais inverosímeis que sejam. Cortezia? Pura dicção? Por favor, isso já não se usa !

Francamente, não sei se são bons convivas. Nunca com eles privei nem tenho ambições de o fazer, mas a avaliar pela forma como visivelmente se tratam uns com os outros, das duas, uma: ou dramatizam muito bem as aparentes desavenças, ou são mesmo assim, gatos assanhados.

Tudo o resto está igual. As alegadas “competências” obtidas por cartão partidário continuam a mascarar o compadrio e os privilégios; o tráfico de influências continua a ser manobrado com a maestria de um saber acumulado de séculos. Quando uma ou outra ovelha tresmalhada no meio dos lobos tenta realizar algo prometedoramente positivo, logo a maioria instalada se encarrega de abafar e dissolver qualquer pingo de alento optimista.

Apetece parafrasear Woody Allen: “O mágico fez um gesto e desapareceu a fome, fez outro e desapareceu a injustiça, fez um terceiro e desapareceram as guerras. O político fez um gesto e desapareceu o mágico”.

Como disse, tudo o resto está igual. Excepto a independência, claro! Essa já a perdemos defenitivamente.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

A minha semana


Retrospectiva

“A muita idade e as várias andanças, incluindo nestas um ou outro momento de euforia, os pontapés do Destino, os dos semelhantes, e os trambolhões que por descuido ou tolice se dão, nada ajudam a compreender da vida. Impedem que se repita um ou outro transtorno, mas a vida, feliz ou infelizmente, é caminho para o qual não há mapa nem bússola.

Vamos andando, paramos aqui e ali, derrapamos nas curvas, caímos na valeta, fazemos o possível por ir direitos e a direito. Depois, cansaço ou susto de ver a meta perto, abrandamos o passo, criando nos que ainda vêm longe a ilusão de que conseguimos chegar até ali por sabedoria e esperteza.

Na verdade, porém, não escolhemos a rota, nem sequer caminhamos pelo próprio pé. Somos empurrados. A uns leva-nos a aragem, a outros o suão, muitos aproveitam o vento içando velas, os desatinados enfrentam o ciclone.

Saber da vida? Nem sequer sabemos donde vem o vento ou quem o sopra.”


Este texto não foi escrito por mim. Nem o seu autor, José Rentes de Carvalho, que eu conheço apenas do que me transmite quando leio o que escreve, me concedeu autorização para o usar. É certo que tambem não me proibiu de o fazer. Por isso o transcrevo e subscrevo.

Por várias vezes tentei alinhar umas palavras que traduzissem o meu sentimento quando rebobino o meu percurso neste curto espaço de tempo a que chamamos vida, nas nunca consegui parir algo que materializasse as formas nítidas dessa sensação. Quase por acaso, tropecei nas palavras deste mestre. Subtilmente, em cada parágrafo, cada vírgula, ele abre a janela sobre o horizonte da verdade que eu conhecia mas não lograva dar a conhecer. Bem haja quem efectivamente sabe escrever.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Trabalho e paz de espírito

Há mais de 15 anos que o trabalho para mim é o principal responsável dos meus tormentos. Antes porque desesperava por encontrar um trabalho estável. Para isso emigrei. Agora porque o trabalho que eu julgava ser estável está em risco.
Hoje é quarta-feira, dia de anti-procrastinação. Vou enviar algumas candidaturas.

Abreijos

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Ensaio sobre o novo jargão empresarial português

Eu sou assim: funciono com plannings. Os plannings transformam-se em tasklists e eu gosto de meter um tick à frente das tarefas concluídas. Dá-me uma sensação de fulfilment difícil de explicar. No jargão técnico empresarial aqueles como eu são chamados "achievers". Obviamente o pecado mortal dos achievers é enterrar-se em listas de inúmeras tarefas inúteis que não servem para nada. Desconfio que a burocracia foi inventada por um achiever extremista.
Mas, como comecei por dizer, a mim os plannings ajudam-me a não perder o focus nos objectivos que quero atingir. Por exemplo, tendo eu começado este blog para seguir a minha evolução nos objectivos pré-estabelecidos, um planning dos posts ajuda-me a fazer o link com a visão targetada (leia-se targuetada). Começo com o planning temático semanal básico :
Segunda: Home
Terça: Plan & World
Quarta: Work
Quinta: Free & Decutler
Sexta: Errand & World
Sábado: Maternity & Relationship & Family & Friends
Domingo: Health & Beauty



PS: Pai, aposto que o acordo ortográfico luso-brasileiro agora te parece muito mais aceitável

Plannings

Pois eu tambem faço planeamentos, mas é só de vez em quando...

Olha, há uns anos, antes de começar a ser velho como já sou, propus a mim próprio elaborar um plano para fazer uma vida e alimentação saudáveis. Objectivo: sentir-me bem e, portanto, mais feliz.
Era um plano ambicioso, um pouco espartano até, mas com uma execução rigorosa decerto atingiria o objectivo pretendido. Todos os dias teria de:

- Comer uma laranja por causa da vitamina C, uma maçã para absorver ferro e uma banana para atestar de potássio.
- Bebericar uma chávena de chá verde, rico em antioxidantes - sem açúcar, claro!, por causa da diabetes.
- Beber pelo menos dois litros de água. (Passaria a vida a uriná-los, o que demoraria o dobro do tempo que levava a bebê-los, mas paciência...)
- Tomar um Actimel para ter "L.Casei Defensis" (que nem desconfio o que seja, mas parecia-me que se não ingerisse tal coisa nunca estaria em forma).
- Uma aspirina e um copo de vinho tinto para prevenir os enfartes, um de vinho branco para o sistema nervoso e um de cerveja já não me lembro para quê. (Não deveria tomar tudo ao mesmo tempo para não ter algum derrame cerebral sem dar por isso).
- Fibra, comer muita fibra! Quando fosse à casa de banho a sanita deveria encher-se do suficiente para tecer uma camisola.
- Deglutir seis refeições, leves, sem me esqucer de mastigar, mastigar, mastigar, pelo menos uma cem vezes cada pedaço. (Fiz as contas e calculei que só em refeições deveria gastar bem uma cinco horas).
- Obviamente que seria obrigatório lavar os dentes depois de cada ingestão: Actimel, lavar dentes; maçã, lavar dentes; banana, lavar dentes; e parar antes de me começarem a caír os dentes.
- Trabalhar oito horas, dormir outras oito. (Mais cinco para comer eram vinte e uma. Ainda ficava com três horas livres).
- Uma hora a caminhar. (Duas horas livres)
- Como é importante manter-me informado, deveria ver pelo menos dois telejornais por dia, de estações diferentes para contrastar a informação. (Admiti que já pouco tempo me sobrava para fazer a barba, tomar banho e tratar do cão).

Para ter tempo para tudo, reequacionei o planeamento de modo a fazer várias coisas ao mesmo tempo: tomaria duche de água fria com a boca aberta para ir bebendo uma parte dos dois litros obrigatórios, sairia da banheira com a escova de dentes na boca, comeria a maçã sentado na sanita enquanto via o primeiro telejornal da manhã e secava o cabelo com o secador na mão esquerda.

Imaginei que nessa altura já estaria a começar a considerar o suicídio como opção válida.

Rasguei o plano e voltei à moda antiga: como o que me põem à frente, trabalho o que tenho de trabalhar, leio, passeio ou vejo televisão quando me apetece e cá vou tendo algum tempo para ser feliz.

A Cor do Horto Gráfico

Então temos um "Blog a Nove Dedos", sete em Roma e dois em Lisboa - de acordo com o comentário da João ao meu texto de anteontem. Nada mau ! São quase duas mãos completas. Qual foi o dedinho que, por gastigo, ficou de fora da equipa escrevinhadora?
O meu problema não é ser um escriba apenas com dois indicadores. A minha verdadeira dificuldade é já não saber escrever correctamente em cumprimento do novo acordo de aproximação à ortografia brasileira. Sim, porque o Brasil, do alto dos seus duzentos milhões de habitantes, não fez nem fará qualquer esforço de aproximação à tradicional ortografia portuguesa.
E depois, muitas palavras entram diariamente em catadupa no nosso léxico. Enriquecem o nosso idioma, é certo, mas às tantas, começo a confundir o seu significado real.
Por exemplo, padrão será um padre muito alto? E testículo será um texto muito pequeno? Tripulante será um outro nome para um especialista no triplo-salto? Assaltante será um "A" que salta? Será que barbicha é um bar frequentado por gays? E homossexual, é um sabão para lavar as partes íntimas? Uma coisa eu tenho a certeza: um coitado é uma pessoa vítima de coito, mas já não estou certo se conversão é uma conversa prolongada.
Estão a ver o meu problema? Então, desculpem lá qualquer coisinha se de vez em quando me saír alguma carta fora do baralho.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

A importância de Delegar #1



O trabalho de casa é dos mais ingratos que existe. Nunca acaba, e só se dá conta dele quando não está feito. Creio firmemente que uma das mais importâncias lições que aprendi sobre o trabalho de casa é DELEGAR sempre que possível. Por exemplo, podendo, pagar colaboração especializada poucas horas por semana para fazer a limpeza de manutenção e - mais importante que tudo - passar a ferro (a coisa que mais odeio fazer em absoluto). Tendo a casa limpa quando chego a casa, posso dedicar-me a fazer outras coisas infinitamente mais importantes, como brincar com a Adelaide, descansar 10 minutos, gozar o meu jardim, ir passear, telefonar a um amigo sem estar a fazer mais nada ao mesmo tempo. Ou arrumar a roupa, fazer o jantar com tranquilidade, deitar-me 5 minutos a ronronar no sofá sem estar pelo canto do olho a controlar o que está sujo. Custa dinheiro, mas é dinheiro bem gasto e bem ganho por quem faz esse trabalho.
A semana passada  a Luana começou a trabalhar connosco, 6 horas por semana. Um descanso, demos-lhe as chaves, vem de manhã duas vezes por semana, nem a vemos. mas pelo menos eu vejo bem o trabalho que ela faz! Até fez a bainha às cortinas do quarto! Antes da Luana vinha a Daniela, e antes ainda a Ionelia. Não é fácil encontrar a pessoa adequada para este tipo de trabalho: tem que saber fazer, ser de confiança,  não faltar, ser simpática. E de preferência aceitar trabalhar legalmente... mas esta já é conversa para outro dia.
Boa  noite!

domingo, 15 de janeiro de 2012

Sentir-me bem... com salada?

O meu objectivo de Saúde e bem-estar é sentir-me bem. Sentir-me bem significa realmente tudo: quero sentir-me bem com o meu corpo, fisicamente e psicologicamente. Eu e a Patrícia estabelecemos cheias de boas intenções um plano de combate para 2012, com objectivos concretos. Obviamente o primeiro é perder o peso acumulado durante a gravidez. O segundo lugar vai para a Saúde, e eu pretendo deixar de ter dores de costas e - quem sabe - conseguir voltar a fazer a ponte. Ou seja, recuperar a flexibilidade das costas. E o objectivo forma  é voltar a vestir o vestido preto do Corte Fiel que o avô ofereceu.  
Não sei se conseguirei perder os 8 quilos que se acumulam de maneira muito pouco homogénea no meu corpo, mas sei que perder peso me fará sentir melhor física e psicologicamente. E o meu hábito de Janeiro para Saúde e Bem-Estar é: até me sentir satisfeita, uma refeição por dia será de salada. Estou cheia de boas intenções!!!


  

A Duas Mãos e Dois Dedos

Eis-me então voluntariosamente armado em blogger. "A quatro mãos, pai", insistiu a João, "vamos fazer um blogue a quatro mãos".
A quatro mãos? Não sei com quantas mãos escreve a João. Cá por mim vou colaborar apenas com dois dedos: o indicador da mão direita e o indicador da mão esquerda - e mesmo este só se digna clicar o teclado para ajudar a introduzir as maiúsculas e pouco mais. Todos os restantes dedos recusam-se terminantemente a colaborar nesta arriscada aventura que é escrever numa língua tão traiçoeira. Mal a gente se aprecata e se esquece de uma vigulazita sem importância e zás! aquilo que escrevemos passa a ser criativamente interpretado a bel prazer de quem lê.
Que o diga o coitado do pároco de Belmonte (uma simpática vila no distrito de Castelo Branco) que era sempre mal interpretado nos avisos que fixava na porta da igreja. "Para todos que tenham filhos e não o saibam, temos na paróquia uma área especial para crianças"; "Prezadas senhoras, não esqueçam a próxima venda para beneficência. É uma boa oportunidade para se livrarem das coisas inúteis que tem em suas casas. Tragam os vossos maridos." Digam lá se não é uma maldade distorcer as boas intenções do pároco. "Assunto da catequese de hoje: Jesus caminha sobre as águas. Assunto da catequese de amanhã: Em busca de Jesus." Santa inocência, meu Deus! E de quem é a culpa? Do traiçoeiro demónio que vive na língua portuguesa e na mente de quem a lê. "O coro dos maiores de sessenta anos vai suspender a sua actividade no verão, com os sinceros agradecimentos de toda a paróquia"; "O prêço do curso 'Oração e Jejum' inclui a comida". Finalmente, o sacerdote acabou por ser transferido, transportando consigo a semente dos sorrisos irónicos do novo rebanho. Antes, porém, foi alvo de uma justa e merecida festa de despedida. A informação da mesma ficou a seu cargo: "Para despedida do pároco, na próxima terça-feira à noite haverá uma feijoada no salão paroquial. Em seguida terá lugar um concerto". Não é justo! É de uma profunda falta de humanidade gozar assim com a boa vontade do ingénuo sacerdote.
Mas como eu sei que de boas intenções está o inferno cheio, não posso deixar de dar razão a oito dos meus dedos, quatro da mão direita e quatro da mão esquerda, em não quererem colaborar neste blogue. Que seja então a duas mãos e dois dedos...

sábado, 14 de janeiro de 2012

Quando as tradições familiares se criam

Hoje é Sábado, e o meu tema de hoje são as tradições que eu gostaria que a nossa pequena família tivesse. Pensei nisto já há algum tempo, quando parecia que a nossa pequena família era mais uma família do que uma equipa. Eu quero que nós sejamos uma equipa: unidos e a trabalhar juntos para objectivos comuns.
Comecei devagarinho, a pensar quais os hábitos que eu poderia estabelecer com influência positiva, de maneira a serem adoptados não só por mim mas também pelo Giuliano e pela Adelaide. Estávamos nos primeiros dias de Novembro. E o hábito de Novembro foi o Pequeno Almoço em família. Enfim, começar bem o dia, em família. Porque eu, com o stress de chegar o mais cedo possível ao trabalho, não tinha sequer tempo para comer. E visto que o pequeno-almoço da Adelaide era o meu leite, nem tinha que me preocupar em dar-lhe mais qualquer coisa.  O pequeno-almoço não ocupa mais que 15 minutos todas as manhãs, basta que eu me levante um bocadinho antes e despache tudo o resto enquanto o Giuliano e a Adelaide ainda dormem. Claro que ao princípio deixei-me tentar pelo meu perfeccionismo, o pequeno-almoço tinha que ser feito com os biscoitos feitos por mim ou com o muesli feito por mim... Mas depressa me deparei com a realidade: os meus biscoitos  não fazem concorrência aos da Osvego, e afinal o mais importante é mesmo começar o dia em família. E o meu medo de que a Adelaide começando a tomar o pequeno-almoço connosco deixasse de querer o meu leite era infundado: ela agora não dispensa nenhum dos dois pequenos-almoços!
O hábito de Dezembro foi o "abraço de família". Simplesmente, consiste num pequeno abraço a três todos os dias antes de sairmos de casa de manhã. Somos uma equipa que está prestes a começar a sua performance, e este é no nosso grito de guerra. Um êxito estrondoso, a Adelaide delira e dá gritinhos de satisfação e aprovação sempre que fazemos o nosso abraço de família.
O hábito de Janeiro consiste em estar poucos minutos por dia no sofá, a ronronar como gatos. Claro que não ronronamos ruidosamente, mas é a imagem que melhor se adequa ao objectivo. Darei conta no final do mês sobre o sucesso deste pequeno passo.
E por aí, alguém quer partilhar alguma tradição famíliar que contribua para a fortificação da equipa?
Beijinhos e boa noite!

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Sexta-feira, reflexos pavlóvicos e terapias-placebo

Hoje quero dedicar dois minutos a quem inventou as Sextas-feiras: merece um prémio Nobel, logo a seguir a quem inventou a máquina de lavar roupa e a máquina de lavar loiça! Longe vãos os tempos em que me levantava ligeirinha e satisfeita aos Sábados com vontade de acabar trabalho deixado a meio, quase tão longe  como os tempos em que me levantava ligeirinha e satisfeita Segunda-feira e ia para o trabalho a cantarolar. Pois é, eu já não sou aquela pessoa. Hoje de manhã quando me levantei pensei que o melhor do meu dia -aliás, o melhor da minha semana - era o facto de ser Sexta-feira. Não tenho grandes perspectivas ou descansos planeados para o fim-de-semana - amanhã e depois a Cláudia está de visita - mas não sei porquê não consigo evitar sentir-me feliz com o "efeito Sexta-feira". Acho que se transformou num reflexo Pavlóvico que funciona como uma terapia placebo. Eu sei que Sábado não será um dia extraordinário, que provavelmente me vingarei em bolachas e doces que anularão as boas intenções acumuladas ao longo da semana, que vou chegar a metade do fim-de-semana com uma dor de cabeça terrível (e se eu me inventasse uma otite e metesse tampões nos ouvidos?) e que vou chegar a Domingo de rastos... Mas mesmo assim estou feliz porque é Sexta-feira!
É Sexta-feira!!!!
Boa Sexta-feira a todos!!

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Escrever a quatro mãos

"First we make our habits, then our habits make us"
Tenho sido preguiçosa esta semana, hoje é a primeira vez que escrevo sobre os meus pensamentos e os meus progressos. E hoje fico-me pelos progressos, porque  os pensamentos são tantos que nem saberia por onde começar.
Vontade de Primavera... e ainda é Janeiro
Os hábitos que estou estabelecer este mês são os seguintes:

  • Escrever diariamente neste Blog: é um instrumento de análise e de metodologia. Ideal para exorcizar as "vozinhas negativas" que teimam em desmotivar-me sobre tudo o que quero e que faço. Para ultrapassar os ataques de preguicite aguda vou fazer um planning temático de publicações. E para além disso é uma óptima maneira de partilhar com quem me é caro o meu dia-a-dia e de sentir-me de coração menos dividido. E a partir de hoje escrever-se-à a 4 mãos neste blog: PAI é agora um autor!
  • Saúde e bem estar: comecei segunda-feira uma dieta mais ligeira, muito simples: substituir uma refeição por uma bela salada! (Patrícia, estás a ler?) Até agora estou a manter-me fiel ao hábito. E para além disso fiz um planning do menú para o mês inteiro. Será com certeza mais saudável, reduzi drasticamente o número que refeições semanais à base ovo e de mozzarella...
  • Para melhorar a minha capacidade organizativa caseira (sim, eu sei, é um caminho MUITO longo, mas o objectivo é começar devagarinho ;-) ) decidi concentrar-me em manter a bancada da cozinha limpa e arrumada diariamente. 2 minutos diários a juntar a tantas outras coisas mas que me dão a satisfação de resultado imediato.
  • Melhorar o Mundo à minha volta: obter um planning de trabalhos manuais de Arte Em Lixo que seja realista e pragmático. Estabelecer um objectivo pouco ambicioso (por exemplo fazer um projecto por mês) e escolher materiais que não ocupem espaço e sejam fáceis de trabalhar: por exemplo papel. Enfim, fazer o planning.
  • Trabalho. Ufa... tenho que pensar melhor neste assunto. Dedicar-lhe-ei um post inteiro ;
E por aí, alguém tem algum hábito novo que queira partilhar? Beijocas e boa noite!! 


  

sábado, 7 de janeiro de 2012

Como atingirei os meus objectivos?

“First we make our habits, then our habits make us.”

Estabeleci para 2012 as grandes linhas gerais de intervenção necessárias na minha vida. Mas são objectivos tão gerais que só por sim  dizem tudo e não dizem nada. Tenho então que estabelecer metas concretas e realistas. As minhas metas serão baseadas nos hábitos que pretendo mudar. Isso mesmo: se eu conseguir estabelecer hábitos que mantenho de maneira sustentável, integrando-os no meu dia-a-dia, esses hábitos passarão a fazer parte de mim e contribuirão para a progressão neste percurso que iniciei.
Um método que eu tenho seguido ano após ano é aquele de concentrar-me num objectivo por mês e estabelecer ao longo de um mês os hábitos necessários para trabalhar naquele objectivo de maneira sustentável. Como princípio é intuitivamente correcto, visto que diversos especialistas defendem que um hábito demora entre 3 a 4 semanas a ser cimentado, se praticado diariamente.  Onde eu falhei nos anos anteriores foi em estabelecer rotinas tão complicadas e rígidas que são impossíveis de manter, e a ter sob mira objectivos irreais. Este ano quero só iniciar o percurso - e mudar qualquer coisa que me faça sentir no bom caminho.
Trabalharei nestes hábitos nos próximos posts.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Dia de Reis, Dia da Befana: entre amigos e boa disposição



Hoje ficámos em casa e partilhámos o Dia dos Reis com um casal de amigos, a Dária e o Cláudio. A Dária é uma amiga do Giuliano do tempo dos escuteiros e o Cláudio é o seu companheiro. Ela está grávida de 4 meses e está mais magra do que antes de engravidar!
Estivemos bem, almoçámos juntos e a sessão de tagarelice foi tão agradável que eles acabaram por ficar também para jantar.
Para o almoço fiz focaccia de alecrim com tantos hors d'oeuvres, seguida de lasagna de cogumelos porcini e por fim crostata de fruta e doce. Saiu-me tudo bastante bem. E para o jantar improvisei uns crepes recheados com pickles e conservas várias.
E por esses lados, como passaram dia? Que tal era o menú?

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Diversão cultural: Palazzo Barberini em Roma



Hoje demos um salto a Roma para visitar a exposição permanente do Palazzo Barberini - a Galeria Nacional de Arte Antiga. Tem obras espectaculares, como o Narciso de Caravaggio e a Fornarina de Raffaelo. Mas para mim o prato forte desta imersão cultural foi o tecto do salão, completamente decorado com um fresco de Pietro della Cortona - tão perfeito que algumas partes pareciam esculpidas. Eu e a Adelaide deitá-mo-nos nos bancos almofadados a olhar para cima um belo pedaço de tempo.


Foi uma manhã tão bem passada que até nos esquecemos da hora do almoço. Quando demos por nós a Adelaide, esfaimada e farta, começou a fazer uma birra de todo o tamanho. Saímos a correr do museu e ainda tentámos comer tranquilamente  na Birreria Marconi. Mas já eram 2 da tarde e a sinfonia do sono da Adelaide não nos deixou tranquilos nem a nós nem aos outros clientes, de maneira que acabámos por escapar e voltar para casa.

Quem quer partilhar aqui uma experiência cultural?