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sábado, 19 de maio de 2012

Não há, está esgotado.




  
minha mulher foi operada a um pé.

Segundo a descrição do relatório operatório fez uma “osteotomia metatársica”, ou seja, trocando por miudos, foi tirar o joanete do pé direito que já andava recorrentemente infectado e a impedia de calçar-se.
Uma horita de bloco operatório com anestesia apenas local, embora eu não seja médico, parece-me que a cirurgia não será por demais complicada nem perigosa, mas o pós-operatório pode ser bastante doloroso. Daí o ter-lhe sido receitado um analgésico com um princípio activo específico e adequado.

Teve alta umas horas depois, deixei-a em casa e fui à farmácia aviar a receita. Medicamento esgotado. Outra farmácia, esgotado. Terceira farmácia, havia uma única embalagem. A receita pedia duas, trouxe uma, tive sorte.

Hora de pouco movimento, o farmacêutico teve tempo de me explicar o porquê desta falta de determinados medicamentos no mercado.
Por um lado, as farmácias, sob forte pressão económica, reduzem cada vez mais os stocks. Se o cliente pode esperar, encomendam o medicamento ao fornecedor de manhã e recebem-no à tarde, ou encomendam à tarde e recebem no dia seguinte logo de manhã. Pagam um pouco mais caro – a urgência tem um custo acrescido – mas evitam o ónus de um stock que pode alongar-se no tempo.

Mas há outro factor que faz rarear determinados medicamentos no mercado, explicou o farmacêutico,  porventura mais grave, designadamente para fármacos de forte consumo hospitalar que são provenientes de multinacionais. A pressão negocial do Ministério da Saúde português para baixar os prêços é muito grande e consegue que a delegação em Portugal da multinacional produza certos fármacos a  metade, por vezes a um terço do prêço praticado no país de origem. A delegação de cá, por sua vez, concorre ao fornecimento desses medicamentos a hospitais no país de origem a prêços altamente concorrenciais relativamente a outras marcas. Quando ganham um concurso, os medicamentos podem ser fornecidos com uma mais-valia extraordinária dado que a delegação os obtem a prêço muito mais baixo. Engenhoso, não é? É claro que não consegue é fornecer esse fármaco na quantidade que o mercado nacional consome e, evidentemente, o produto escasseia, quando não esgota mesmo. Os portugueses que tenham paciência...

Mas então – pergunto eu, ingenuamente – e o Ministério, sabendo isso, não faz nada? Não, não faz. A dívida às farmacêuticas é demasiado grande para que o Estado se possa dar ao luxo de as afrontar com exigências de uma eficaz cobertura de mercado. Diz o ditado popular: “Quem não deve não teme”. Acrescento eu: “Quem deve come... e cala”.