A minha mulher foi operada a um pé.
Segundo
a descrição do relatório operatório fez uma “osteotomia metatársica”, ou seja,
trocando por miudos, foi tirar o joanete do pé direito que já andava
recorrentemente infectado e a impedia de calçar-se.
Uma
horita de bloco operatório com anestesia apenas local, embora eu não seja
médico, parece-me que a cirurgia não será por demais complicada nem perigosa,
mas o pós-operatório pode ser bastante doloroso. Daí o ter-lhe sido receitado
um analgésico com um princípio activo específico e adequado.
Teve
alta umas horas depois, deixei-a em casa e fui à farmácia aviar a receita.
Medicamento esgotado. Outra farmácia, esgotado. Terceira farmácia, havia uma
única embalagem. A receita pedia duas, trouxe uma, tive sorte.
Hora
de pouco movimento, o farmacêutico teve tempo de me explicar o porquê desta
falta de determinados medicamentos no mercado.
Por
um lado, as farmácias, sob forte pressão económica, reduzem cada vez mais os
stocks. Se o cliente pode esperar, encomendam o medicamento ao fornecedor de
manhã e recebem-no à tarde, ou encomendam à tarde e recebem no dia seguinte
logo de manhã. Pagam um pouco mais caro – a urgência tem um custo acrescido –
mas evitam o ónus de um stock que pode alongar-se no tempo.
Mas
então – pergunto eu, ingenuamente – e o Ministério, sabendo isso, não faz nada?
Não, não faz. A dívida às farmacêuticas é demasiado grande para que o Estado se
possa dar ao luxo de as afrontar com exigências de uma eficaz cobertura de
mercado. Diz o ditado popular: “Quem não deve não teme”. Acrescento eu: “Quem
deve come... e cala”.