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sexta-feira, 13 de abril de 2012

O Hiperactivo

O nosso cão chama-se Júnior.


Em bom rigor, nosso nosso não é. Acontece que, ainda cachorro, a minha nora e o meu filho decidiram ficar com ele, para que o bicho não tivesse o triste fim que lhe estava destinado por ter nascido à revelia de uma “maternidade programada”, e levaram-no para o apartamento onde viviam nessa altura. Compraram-lhe um cesto para lhe servir de ninho e, quando saíam de casa logo de manhã, deixavam-no bem tratado, com comida e água para quase todo o dia até chegarem à noite a casa. As queixas dos vizinhos não tardaram. O Júnior ladrava e uivava todo o santo dia e os estridentes decibéis do seu protesto ecoavam ininterruptamente por todo o prédio. Era insuportável para qualquer ser humano e provavelmente para qualquer ser vivo com o sentido da audição. O ultimato foi breve, definitivo e sem apelo: “Façam favor levem esse cão daqui!” Para onde iria o Júnior? Para nossa casa, evidentemente!


O Júnior – o nome provem de ser parecido com o pai – lá se foi adaptando à nova morada em companhia dos seus progenitores, o Sebastião e a Migalha, que já por cá viviam connosco.

De porte pequeno e perna curta (a sugerir uma remota ascendência basset), a pelagem de um negro luzidio, o cachorro era vivaço e simpático e fazia as delícias dos meus netos que, quando nos visitavam, se engalfinhavam com ele em constantes brincadeiras. Passados que são alguns anos, quando era de esperar que a hiperactividade típica de cachorro fosse acalmando, pelo contrário manteve-se e até redobrou após a morte, já em idade avançada, dos progenitores. Ele corre, salta, rodopia, esgravata em perpetuum mobile abundantemente complementado com sonoros latidos, grunhidos e gemidos. Simplesmente, não pára.

Li há uns dias na revista “Ciência Hoje” que uma tal Joana Bessa, investigadora no Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade do Porto, descobriu que os cães são contagiados pelo bocejo dos humanos e reagem ainda mais se for o seu dono. A investigação põe em perspectiva a ideia que os cães sentem empatia com os seus donos e a tese é fundamentada na existência de complicados estudos neurocientíficos e em ciclos neuronais envolvidos na sensibilidade do bocejo.

Resolvi experimentar. Num dia em que o bichano estava assaz endiabrado, comecei a bocejar, a bocejar, a acompanhar o abrir e fechar da boca com os gemidos característicos de quem precisa urgentemente de fazer uma prolongada sesta. A minha mulher foi dar comigo a dormir meio sentado meio refastelado numa cadeira, a cabeça pendida para a frente, queixo junto ao peito, a ressonar baixinho. O Júnior, esse, qual quê!! Continuava incansável nas suas corridas para trás e para frente, rabo a dar a dar, a ladrar a tudo o que mexe, seja gato, passaroco ou pessoa que passe na rua.

Decididamente, o bicho não costuma ler a “Ciência Hoje”.

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