Sendim, mais propriamente Sendim da Ribeira - dado que, como as Marias, há mais Sendins nesta terra – é uma pequena povoação situada no nordeste transmontano. Passamos lá uns dias em casa de uns amigos.
Encarrapitada na crista de um monte, a aldeia faculta a quem lá vai uma limpeza geral. Dos pulmões, porque se respira um ar saudável, isento de poluíção; dos olhos, porque a vista sobre os rudes montes e vales circundantes é soberba; da cabeça, porque o stress da cidade fica completamente anestesiado.
F izemos de Sendim quartel general. De manhã, depois do pequeno-almoço, metiamo-nos no carro e abalávamos à descoberta das cidades mais próximas. Ultrapassando o sobe e desce por montanhas e vales em estradas de curvas e contra-curvas, lá chegávamos a Alfândega da Fé – cidadesinha sensaborona, sem graça – a Miranda – bela e orgulhosa do seu património linguístico – a Torre de Moncorvo, Macedo de Cavaleiros, Freixo-de-Espada-à-Cinta. Almoçávamos normalmente pelo caminho em tasquinhas de gente simpática e acolhedora e onde apreciamos os enchidos típicos da zona (fazem tão mal mas sabem tão bem!) as migas de bacalhau ou o cabrito à transmontana. À noite regessávamos a penates e ao encosto da lareira.
Amanhã ou depois contarei mais coisas sobre este reconhecimento por terras “para lá do Marão onde quem manda são os que lá estão”
É uma aldeia perdida na serra. Não tem lojas nem algo que possa assemelhar-se a uma casa de comércio. Só casas de habitação e barracões para guardar lenha e arrumar alfaias e redis para recolha das ovelhas e dos respectivos cães de guarda. Ah! E uma igreja, claro está, indispensável ao apascentamento dominical da dúzia de almas que por lá vive. Como o alimento espiritual não é tudo, o abastecimento dos bens terrenos, desde o pão ao petróleo, tachos, panelas ou candeeiros, é assegurado tambem uma vez por semana pelo tradicional almocreve. Já não vai a cavalo, evidentemente, vai montado numa boa carrinha comercial, estamos no sec XXI.
Algum frio nesta altura do ano, mas um frio seco, nada que não se aguente de dia com um camisolão vestido e à noite com a protecção da lareira acesa. No verão, sob a inclemência de um sol sem nuvens adivinha-se um local infernal.
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