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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Rescaldo

No sábado passado fomos a um encontro dos “5x2”.
5, porque somos cinco (agora) sexagenários que a certa altura, já lá vão uns bons anos, decidimos juntarmo-nos periodicamente no sentido de contrariar a tendência natural do afastamento para o qual a vida frequentemente nos empurra. Vivemos em zonas geograficamente distantes e temos sensibilidades políticas, religiosas e sociais distintas. No entanto há uma afinidade comum, resultante de termos vivido juntos as agruras de um cenário de guerra, dois anos penosamente violentos em que a estreita faixa entre a vida e a morte, entre a loucura e a sanidade mental, é mais facilmente percorrida se se tem os compagnons de route que amenizam os piores momentos. Essa afinidade manteve-se ao longo de dezenas de anos porque ficou ancorada noutra dimensão, num patamar acima das naturais divergências de personalidade de cada um.
x2, porque, felizmente, todos somos acompanhados e secundados pelas respectivas consortes que lograram, tambem elas, estabelecer uma corrente de ligação entre si.
No sábado, dizia eu, reunimo-nos os "5x2". Em casa de um de nós, em Carnaxide.
Comemos, conversamos, comemos, fomos a um concerto de música sinfónica, comemos, mostramos fotografias de netos, comemos, discutimos, resolvemos os problemas do mundo e, principalmente, comemos.
Francamente não sei como se processam tertúlias deste tipo em Espanha, Itália ou na Suécia. Mas porquê que em Portugal o elemento fundamental, irredutivelmente omnipresente, é uma mesa carregada de convidativas comezainas a que ninguem se consegue furtar? Evidentemente que cada um se esmera em comparticipar com umas “coisinhas” que traz lá da sua zona e o resultado é este: queijos e enchidos, muitos e dos mais variados; os tradicionais croquetes, empadas e afins; o pão daqui e dacolá, estaladiço, apetitoso; travessas cheias de fruta da época e sem ser da época e as inevitaveis “especialidades” que vieram dos Açores, do Alentejo ou de outro sítio qualquer – todas as terras que se prezam têm uma especialidade. E depois, há uma “ponte aérea” sempre em movimento entre a cozinha e a sala com a constante preocupação de repôr devidamente os stocks à medida que as travessas vão ficando vazias. É certo que a base do convívio é o diálogo e, estranhamente, ninguem fala com a boca cheia, mas que as coisas vão desaparecendo rapidamente dos pratos, lá isso vão! Claro está que quando finalmente chega o prato de “substância”, o elemento de faca e garfo que é da responsabilidade dos anfitriões, já não sobra vontade mas ninguem tem a coragem de “fazer a desfeita” à dona da casa. E continua-se a comer...E vêm os doces, os que são pudins, os que são bolos, os que se comem com colher, os que se comem com garfo. “provem mais este que é muito bom, tem café”, “não me digas que não dás sequer uma dentadinha neste bolinho para experimentar”.
Hora do concerto. Ali tão perto que nem deu hipótese de andar um bom bocado a pé para arejar, o auditório do Centro Cívico estava a abarrotar. Oh deuses, que vontade de dormir depois daquele banquete! Vá lá que os acordes de Mozart e de Shubert animaram o suficiente para não passar pela vergonha de roncar ao ritmo da trompa.
Voltamos a casa. Mais dois dedos de conversa e, irrecusavelmente – “não me façam essa desfeita!!” – mais um caldinho para aquecer para a viagem. E mais um presuntinho, e um queijinho, e um croquetinho, e mais não sei quantos inhos.
Despedimo-nos até ao próximo encontro. É em Cabeceiras de Basto e com visita já programada a Guimarães, este ano a capital europeia da cultura. Em Junho, felizmente, para dar tempo a recuperar.
Ontem quase não me mexi em casa: foi o rescaldo.

1 comentário:

  1. Pois em Itália posso dizer-te que as tertúlias de amigos também são muito bem acompanhadas com muita comida, vinho e boa conversa. E no final chá para digerir (acompanhado de bolinhos, obviamente!)

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