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terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Adoro a Marginal

O meu percurso diário casa-escritório-casa é sempre o mesmo. Sou uma pessoa de rotinas? Sim, talvez um pouco. Mas neste caso, o que me leva a optar sempre pelo mesmo caminho é o prazer de percorrer a Marginal.
Saio do meu bairro - uma espécie de aldeia em plena cidade - e desço a Rua dos Jerónimos ao cabo da qual viro para contornar a Praça do Império. Olho à minha direita a enorme fachada do Mosteiro, passo em frente ao Centro Cultural de Belem e, finalmente, penetro na Marginal em direcção a Cascais.Tecnicamente, aquele troço de estrada até ao limite do concelho de Lisboa, até entrar em Algés, tem o nome de Avenida da Índia mas para mim já me sinto na Marginal.
Rolo quase sempre a baixa velocidade. Se é de manhã ainda cedo, vejo desfilar à minha esquerda a silhueta recortada na bruma da Torre de Belem. Alguem, já não me recordo quem nem porquê, definiu-a como "pão, pão, queijo, queijo". Nunca percebi bem o significado desta expressão, embora a veja utilizada com muita frequência: "Eu cá não sou homem de meias tintas, sou pão-pão-queijo-queijo !" Será este o significado, o que é , é, o que não é, não é; branco branco, preto preto, sem cinzentos? Mas então a Torre de Belem é uma coisa em forma de assim?
Curiosamente, a estrada contínua que é a Marginal foi ganhando nomes, quase palmo a palmo, ao longo de todo o seu percurso. Na "recta do Dafundo", logo a seguir a Algés e depois de passar o Aquário Vasco da Gama, é onde invariavelmente sou ultrapassado pelo comboio que concorre comigo na ferrovia paralela à estrada. Do outro lado da linha, por desporto ou por necessidade, já há gente a pescar - dizem que a taínha pica bem naquela zona do rio. Chego à "curva do Jamor". Paro no semáforo e alguns alunos de Faculdade de Motricidade, madrugadores, que fazem a sua corridinha matinal, aproveitam para atravessar a estrada. À minha esquerda encavalitam-se os soturnos armazens da antiga fábrica de fermentos holandeses, há muito desactivada. À direita estende-se o enorme complexo desportivo do Jamor.
Cai o verde. Ponho-me em andamento e sigo em direcção à "Gibalta", local onde se situa um farol e onde nos anos cinquenta do século passado ocorreu um terrível acidente. Um desmoronamento de terras provocou o descarrilamento do comboio do qual resultou um elevado número de mortos e feridos.
No "Alto da Boa Viagem" a vista sobre o mar é deslumbrante. O mar - é mais ou menos por ali que acaba o rio - imita o colorido do céu com um toque muito pessoal: se azul, adiciona-lhe milhões de reflexos dourados; se de chumbo, acrescenta-lhe um verde raiado de espuma branca. Mas o mar, mesmo quando alteroso, é sempre belo.
Mais à frente, já em Caxias, numa pequena enseada a que deram o pomposo nome de "Baía dos Golfinhos", perfila-se a sentinela atenta do Forte de São Bruno que em tempos, emparceirando com o Bugio lá ao longe no meio das águas, ajudava a suster os ataques da pirataria que rondava Lisboa.
Depois da "curva dos pinheiros", designação adquirida pela existência junto à estrada de dois ou três pinheiros retorcidos pela ventania que frequentemente fustiga aquela zona, passo ao longo da vedação da Escola Náutica, em Paço d'Arcos, e aproximo-me do sítio, em frente à praia de Santo Amaro, onde tenho que virar para o interior, onde fica o meu escritório.
A Marginal prolonga-se por muitos mais quilómetros, mas é por aqui que eu fico.



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