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quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

A Sinusoide da Vida




A<0
Em 1966, sufocado pelo ambiente abafado de uma ditadura ainda longe do estertor e com a família a viver uma situação económica difícil, emigrei.Na altura não era considerado emigrante quem fosse tentar vida nova em qualquer dos territórios de alem-mar administrativamente geridas pela "metrópole" de um Portugal já em guerra mas que ainda se dizia "uno e indivisível". Fui para Angola, uma terra situada no meio de um imenso e enigmático continente a muitos milhares de quilómetros de distância da minha Lisboa natal. Num mundo em que não existiam telemóveis nem internet, em que qualquer tipo de comunicação à distância era difícil e morosa, foi psicologicamente doloroso o corte do cordão umbilical quando embarquei no cais de Alcântara. Fui de navio, claro! O avião era um luxo incomportável. Esperavam-me tempos de difícil adaptação. O clima, o modo de vestir, os hábitos sociais, a hostilidade camuflada da maioria negra, tudo era diferente.

A>0
Ambientei-me. Comecei a dar aulas, criei amigos, participei em tertúlias, assisti a festas tradicionais indígenas onde aprendi novos sons musicais, pesquei tubarão numa frágil canoa, mergulhei para apanhar lagostas à mão, corri o meio mundo daquele extenso país, vi animais selvagens no seu habitat natural, atravessei o deserto, ultrapassei savanas, subi íngremes montanhas e vivi alguns dos melhores momentos da minha vida.

A<0
Inexoravelmente, a roda que nos comanda continuou a mover-se. Obrigado a voltar a Lisboa, suspendi o futuro durante um período de três anos: um ano a aprender sobreviver e dois a pôr em prática a aprendizagem numa guerra sem nexo. Mas como tudo tem um fim, a minha participação nesse filme de horror tambem terminou.

A>0
Levantei a suspensão do futuro e comecei a adaptar-me a uma vida em paz. Finalmente senti que havia segurança para criar família. Após um período de indefinição profissional, ingressei numa empresa, preocupei-me em adquirir formação rigorosa, trabalhei intensamente e em dois anos atingi o topo da hierarquia. Ganhei muito dinheiro. Comprei um carro novo, comprei casa, comprei um segundo carro, aos fins de semana percorriamos as melhores pousadas do país, férias nos melhores aldeamentos do Algarve. A família ia crescendo.

A<0
Subitamente, fui enrolado num turbilhão e tudo se desmoronou. Bendita Revolução que acabou com a guerra e com a ditadura e criou espaço para se começar a construir pilares de uma nova sociedade. Mas, como em qualquer revolução, a instabilidade imperou durante muito tempo. Com a empresa destroçada e uma responsabilidade familiar entretanto ampliada, obriguei-me a abraçar a primeira oportunidade: uma actividade para a qual nunca estive talhado, que me consumiu muitos anos de vida e que, por fim, me obrigava a "arrastar longas e penosas correntes nos tornozelos". Depois, outra actividade que me obrigava a ficar a semana longe da família. Depois, outra ainda, o investimento num empreendimento que parecia prometedor mas ao qual o mercado não aderiu e que resultou em forte prejuízo financeiro.

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Renasci das cinzas e mergulhei de cabeça como sócio noutra empresa. Obtive informação, estudei muita legislação, actualizei conhecimentos e voltei a criar uma posição profissional requerida e uma imagem reconhecidamente boa. Paguei todos os prejuízos financeiros do descalabro anterior e pensei que a partir daqui poderia começar a usufruir do que ganhava.

A<0
Engano! A roda continuava a mover-se e o período T entrava no seu percurso abaixo do eixo das abscissas. Nada a fazer, a crise mundial estava aí.

É claro que em tudo é preciso ter um pouco de sorte, não fosse a Vida um jogo. E eu tive a sorte de ter sempre a meu lado, nos bons e nos maus momentos, uma extraordinária Companheira. E, nesse capítulo, posso dizer que na sinusoide da minha vida o A esteve sempre positivo.

Todo este relambório para dizer o quê? Que, minha filha, a roda gira, gira, e tu, alcandorada num dos alcatruzes da nora, não estarás sempre por cima, mas tambem não estarás sempre por baixo.





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