Não gosto de me levantar tarde mas ao domingo, de vez em quando, sabe mesmo bem ouvir as sete badaladas no relógio da sala, graves, lentas, cadenciadas, a ecoarem por toda a casa, depois as oito, mais tarde as nove, e continuar enrolado sob o edredão, de olhos fechados, semi-desperto, a apagar do bloco-notas mental as tarefas que no dia anterior me tinha proposto fazer.
Antes ainda de abrir os olhos, volto-me para o outro lado e preparo-me para mais uma dose de limbo. Infelizmente, a urgência de uma bexiga cheia chama-me à realidade. Apenas com um olho aberto, arrasto-me até à casa de banho e é o esforço de concentração para não urinar fora da sanita que me faz acordar de vez.
Está quebrado o feitiço. O duche morno dissolve definitivamente os últimos vapores do sono e recomeço a listar no bloco-notas mental as tarefas que ainda me é possivel executar depois de dar de comer ao cão e, acompanhado pela cara-metade, tomar eu próprio o pequeno-almoço: aspirar e lavar os carros que, de tão sujos, pouco falta para se transformarem em viveiros de cogumelos, fazer pequenas reparações que a mãe me pediu já há uns dias, lavar o quintal dos presentes que o Júnior, com infalível periodicidade diária, deixa para mim.
Há dias, porem, que a vontade é mesmo preguiçar. Os carros que esperem - mais cogumelo menos cogumelo, não será por isso que ficarão parados na estrada - as reparações não são prioridade absoluta e para quê limpar hoje o quintal se amanhã estará ma mesma?
Sento-me no sofá da sala - o meu, mania à Archie Bunker - faço um zapping rápido na televisão mas nenhum programa me atrai, folheio um livro mas não completo a leitura de uma única linha, ligo o computador mas não chego sequer a abrir as mensagens, aguardo pacientemente pelo almoço e preguiço, preguiço, preguiço... Lá fora, por vezes, um céu de chumbo e uma morrinha suave mas persistente ajudam a tarde a arrastar-se, lenta, indiferente, absolutamente improdutiva. Relax mais tranquilo não conheço.
O dia seguinte será outro dia.
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