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domingo, 29 de janeiro de 2012

O Síndroma de Chaplin

Chaplin era genial ! Alem de actor, realizador, produtor, escritor, músico, dançarino, ele tinha como nenhum outro o dom da comédia. Sempre com humor, tirando partido de uma subtil pantomima, punha a nu os graves problemas de uma sociedade em plena transformação, desde as contradições de uma revolução industrial em curso, até à ascenção das ideologias hitlerianas. As imagens dos seus filmes, sem necessidade de texto, derrubavam qualquer barreira linguística e eram compreendidas em todo o mundo.
Recordo, por exemplo, a inolvidável caricatura do operário de Tempos Modernos que passava dias, semanas, meses, com uma chave inglesa em cada mão, unicamente a apertar as porcas que deslizavam perante ele, sem parar, numa linha de montagem. De tal modo que, quando um dia terminou o seu turno de trabalho e saíu para a rua, não conseguiu dominar o tique automático das mãos e acabou a tentar apertar, como se fossem porcas, os botões do casaco de uma senhora que passava perto.

Esta cena começou a vir à minha memória desde que a Mãe, todas as noites depois de jantar, se senta em frente à televisão a fazer tricot. Deita de vez em quando um rabo de olho ao programa, vai trocando um ou outro comentário comigo, e tricota, tricota, tricota, em movimento contínuo, uma agulha em cada mão, cadência rápida e precisa. Tricota tudo e mais alguma coisa: camisolas, coletes, meias, barretes, pantufas, para as filhas, para as netas, para as amigas, para as netas das amigas. Num simples serão consegue tricotar um par de sapatilhas como as que estão na imagem.

Dada esta produção em série, quase industrial, eu penso que isto já não é tricotar, é tetracotar ou pentacotar.
De forma que, francamente, tenho andado com algum receio que de um momento para o outro se revele alguma crise aguda do Síndroma de Chaplin e a Mãe saia para a rua com as mãos a dar a dar como se tivesse e acabar urgentemente uma encomenda para alguem.
É sabido que estas doenças assim como aparecem tambem desaparecem e a minha esperança é que a Mãe ultrapasse rapidamente a fase do tricot e, como não consegue estar parada, parta para outra. Mas por enquanto, pelo sim pelo não, sempre que saímos juntos eu levo um saquinho no bolso do casaco. Se lhe der alguma crise, estarei assim pronto para aparar as moedinhas que as pessoas derem à aleijadinha.
Nos tempos que correm não se pode perder qualquer oportunidade para equilibrar o orçamento familiar.




1 comentário:

  1. Quer me dera ser contaminada por um síndrome de produtividade criativa semelhante a este!

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