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terça-feira, 13 de março de 2012

A minha atenção está nos valores

Não quero de maneira nenhuma comparar-me com os nossos diligentes dirigentes políticos, mas também eu estou muito atenta. Mas o que me chama a atenção não é o estado da economia - aliás faço os possíveis por ignorá-la para evitar deixar-me abater pelo peso dos braços. O que me chama a atenção é a crise de valores mais ou menos generalizada.

Em Itália, como em Portugal, a crise faz-se sentir para quem perdeu o trabalho; para quem ainda não tem trabalho; para quem não consegue chegar ao final do mês apesar de ter trabalho; para quem tem medo de perder o trabalho; para quem se suicida porque abriu falência e perdeu a dignidade; para quem perdeu direitos em prol da defesa das empresas; para quem é como nós e não como os outros.
Os outros - mas quem são esses outros?
Os outros são quem acha que são as indústrias que precisam de ser defendidas, e não os trabalhadores. Quem permite que a Fiat tenha aplicado uma lei interna que desrespeita a constituição italiana. E eu estou atenta.
Os outros são aqueles que acham que a culpa do estado da economia é dos trabalhadores que têm direitos a mais. É preciso "flexibilizar" o trabalho (leia-se despedimentos). E até fica bem a uma senhora ministra arengar que a maternidade é demasiado longa. E eu estou atenta.
Os outros são aqueles que escolhem como único projecto inatacável aquele que pode dinamizar o sector da construção e das obras públicas, contra tudo e contra todos. E depois trata o tudo como acessório e os todos como terroristas. E eu estou cada vez mais atenta.
Os outros são aqueles que procuram um bode expiatório fácil para os problemas do mundo. Tipicamente os emigrantes, os muçulmanos, os esquerdistas ímpios e os ambientalistas são os culpados mais consensuais. E eu há muito que estou atenta.
Mas outros são também aqueles que, emergindo de uma crise política que dura há 20 anos, se deixam iludir por um governo nomeado (e não eleito) que finalmente começa a mostrar trabalho. É de tal maneira uma novidade que nem interessa qual a direcção em que esse trabalho nos está a levar. E eu, mais do que atenta estou preocupada.
Os outros são também aqueles que acham que um país dever ser gerido como uma empresa: definir uma estratégia, estabelecer prioridades e avançar na direcção da maximização dos lucros. Lucros, não direitos. O bem-estar económico (de alguns, por definição) é mais importante. E eu começo a sentir-me diferente. E estou tão preocupada.
Cada dia que passa me apercebo que cada vez mais de nós são como os outros. Eu chamo a isto crise de valores, o Pato Donald chama-lhe ignorância. A História não discute semântica mas aconselha-nos a estar muito atentos.
Abreijos

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