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quinta-feira, 1 de março de 2012

Para Lá do Marão (2)


Na Sé Catedral de Miranda do Douro, em altar próprio, está em exposição uma pequena imagem representando um menino de faces rosadas e semblante ingénuo, cuja principal característica é usar um chapéu alto. É o Menino Jesus da Cartolinha, ou, em mirandês, o Nino Jasus de la Cartolica.
A pequena escultura chamou-me a atenção pela estranheza de ver uma imagem sacra envergando uma cartola. Mas a coisa não fica por aí. O dito Menino Jesus está rodeado de um abundante enxoval constituído por peças de roupa em miniatura que as gentes de Miranda oferecem ao longo dos tempos.
Esta devoção sui generis tem origem numa história que data da época da luta pela independência contra os espanhois (uma “teimosia” constante em toda a História de Portugal) em fins do sec XVII, princípio do sec XVIII. Segundo a lenda, o exército castelhano invadiu e saqueou Miranda sujeitando a população a um permanente vexame. Foi então que apareceu nas muralhas um menino vestido de fidalgo exortando os mirandeses a não se deixarem vencer. Recobrada a força anímica, de todas as casas saìu gente armada de cajados, foices e varapaus para escorraçar os invasores. No fim da luta procuraram em vão o menino que os incentivara à vitória, o pequeno grande chefe tinha desaparecido, e logo a crença popular o identificou indubitavelmente como sendo o próprio Jesus que descera à cidade para a salvar. Mandaram esculpir uma imagem do menino vestido de fidalgo e colocaram-na num altar da Sé Catedral.
Só não entendo o porquê de lhe enfiarem uma cartola, tendo em conta que esta moda só apareceu muito mais tarde com a revolução industrial. Provavelmente alguem considerou que o menino deveria apresentar um ar mais afidalgado e colocou-lhe aquele acrescento extemporâneo. A devoção popular tudo faz. Foi assim que passaram a oferecer-lhe tambem meias, sapatos, coletes, casacos, camisas, toda a gama de peças de vestuário perfeitamente adaptado ao seu tamanho.
O interessante é que os devotos não são só portugueses. Por estranho que possa parecer, os vizinhos do outro lado da fronteira tambem se tornaram devotos do Menino Jesus da Cartolinha e ainda há pouco tempo um abade de Zamora mandou fazer “un capuchon” para lhe oferecer com a intenção que o menino ficasse adstrito à sua confraria.
Coisas que se passam para lá do Marão.

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