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domingo, 4 de março de 2012

Vencer na Vida

Do blog “Tempo Contado” , de Rentes de Carvalho (senhor de uma prosa inteligente e bela mas ácidamente pragmática, de um pão-pão-queijo-queijo que por vezes chega a ser irritante, autor de uma obra que eu leio e admiro e cujo blog sigo com a frequência possível) transcrevo, com a devida vénia, o seu post de sexta-feira passada com o título “Exame”.
«Um bem sucedido homem de negócios, conta da sua juventude na grande propriedade agrícola da família, na província de Groningen, no norte da Holanda, e surpreende-nos com o curioso exame a que o pai submetia os rapazes que o procuravam em busca de emprego.
Mandava que aparecessem na manhã seguinte, às seis, e punha-os no trabalho mais duro, a ver como se comportavam e do que eram capazes. Ao fim do dia convidava-os para o jantar, que nesse tempo, e como ainda hoje nas casas de lavoura por lá é costume, reunia a família em torno da mesa onde fumegava uma única e grande panela. Dadas as graças, servia-se o pai, depois dele os presentes, todos à uma, cada um procurando o melhor bocado.
Inconsciente da prova a que o submetiam, se por acaso ou modéstia aguardava vez, estava o candidato perdido, pois o patrão nem esperava pelo fim da ceia para lhe dizer que não voltasse, e do dia de trabalho, não recebia paga, tinha sido à prova.
Emprego garantido era para aquele que, empurrando os de casa, arrepanhava o que podia logo depois do patrão, dando mostras da boa mentalidade para vencer na vida.»
Julgo que intencionalmente, o autor não emite qualquer opinião nem deixa vislumbrar qualquer juízo de valor sobre o exame praticado pelo patrão da casa, limitando-se a classificá-lo de “curioso”. Ou seja, o leitor, uma vez assimilado o conceito da tática do empregador, tem a natural tendência de tecer os seus próprios considerandos sobre a bondade do processo.
O leitor fecha os olhos e pensa então que eram outros tempos, que a atitude de suplantar a concorrência de forma tão ignóbil, violenta até se necessário, só é admissível numa sociedade insensível e buçal digna de um far west americano; pensa que hoje as coisas não se passam da mesma forma, que o candidato a um emprego que assim procedesse era o primeiro a ser excluído; pensa que agora vivemos numa sociedade civilizada que privilegia a modéstia e a correcção no tratamento social; pensa, enfim, que o conceito de vencer na vida é hoje diferente.
Quando abre os olhos, porem, o leitor olha à sua volta e constata que o só uma omnipresente hipocrisia impede de dizer-se que o actual conceito de vencer na vida é diferente do que prevalecia na mente do patrão daquela propriedade agrícola no norte da Holanda.

1 comentário:

  1. É preciso sonhar a utopia para transformar a realidade. Na minha casa (e com muito orgulho) a civilidade está uns quantos pontos acima das leis da selva.

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