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sábado, 3 de março de 2012

Para lá do Marão (4)


Fomos a Chacim ver o Real Filatório.
Antes disso, perto de Macedo de Cavaleiros, mais exactamente em Peredo, uma pequena povoação na estrada de Macedo para Mogadouro, fomos almoçar ao Saldanha. Por fora só dá por ele quem já o conhece. O interior, porem, mostra-nos um restaurante relativamente espaçoso. Uma das paredes decorada com um incrível conjunto de velharias – utensílios agrícolas torcidos, panelas de cobre empoeiradas, um relógio de cuco parado, lanternas ferrugentas, rádios desmembrados, caçadeiras sem gatilho – parece incompatível com outra parede completamente forrada por todos os prémios, louvores e outros encómios ganhos pela arte da sua cozinha. (Consta que o dono canta o fado – prova que o fado mesmo transmontano continua a ser bem português – mas o homem estava ausente). Especialidades da casa: posta mirandesa e cabrito assado. Felizmente nenhum de nós é vegetariano como a minha filha João e pedimos o cabrito. Bem tostado, acompanhado com batatinhas coradas e vinho tinto da região, tudo excelente. Umas laranjas muito doces para desenjoar e o remate de um bom café.
E lá abalamos para Chacim.
O Real Filatório foi uma das infra-estruturas mais importantes da indústria europeia de produção de seda e chegou a empregar centenas de pessoas no sec XIX.
Projecto pensado ainda no tempo do Marquês de Pombal, o complexo industrial veio no entanto a ser desenvolvido já no reinado de D. Maria I e esta região transmontana foi a escolhida por ter um micro-clima propício à plantação de amoreiras. Foi introduzida uma tecnologia de vanguarda e, segundo dizem as crónicas, eram produzidas as melhores sedas e brocados de qualidade reconhecida em toda a Europa.
Depois, a nossa História está cheia de “mas” e “depois”, vieram as invasões francesas, a corte foge para o Brasil, atropelaram-se as posteriores perturbações políticas e sociais da guerra civil entre liberais e absolutistas e, finalmente, em meados do sec XIX o Real Filatório entrou em decadência e cessou actividade.
Hoje restam as ruínas -- quatro fortes paredes de pedra sem telhado – e algumas amoreiras. Mesmo ali ao lado a autarquia decidiu criar um Centro Interpretativo e uma espécie de museu que mostra as peças fundamentais da fábrica: teares, tornos, fusos e o célebre “moínho redondo” que não sei exactamente o que era mas, segundo li, constituía o cerne da tecnologia de ponta implementada.
Não cheguei a ver nada disto porque o museu estava fechado. Porque é que não fiquei surpreendido?
É difícil imaginar que naquela longínqua e quase desabitada aldeola onde o elemento que impera é o silêncio trabalharam, não há tanto tempo assim, centenas de pessoas numa fábrica plena de vitalidade. Fogo fátuo de uma Revolução Industrial que ainda hoje parece não ter chegado ao Nordeste Transmontano.
Coisas que se passam para lá do Marão.
filatorio (6)

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