Inicialmente, à luz da irreverência natural dos meus dezassete ou dezoito anos o estudo daquela coisa parecia-me um disparate sem pés nem cabeça inventado por um filósofo grego que viveu há não sei quantos séculos, principalmente quando se mostrava que um silogismo perfeito era, por exemplo, “todo o círculo é redondo, nenhum triângulo é redondo, logo, nenhum triângulo é círculo”. Para quê matar a cabeça a estudar todas aquelas regras complicadas da formação de silogismos para chegar a conclusões sempre tão evidentes. Dificilmente poderia aperceber-me nessa altura que em toda a minha vida futura viria a utilizar a solidês da lógica aristotélica, seja na matemática ou na física, seja nas dezenas de pequenas deduções que fazemos sem dar por isso no dia a dia antes de tomar uma qualquer decisão. A civilização ocidental baseia-se fundamentalmente na razão lógica das coisas.
Dou de caras com esta notícia no Público de hoje e fico com a sensação que há um edifício, arduamente construído por tantos filósofos e pensadores, que tem vindo a desmoronar-se em ritmo acelerado à revelia do meu descernimento.
A Alemanha tem absoluta necessidade de mão-de-obra qualificada em muitas e variadas profissões que sustentem a estrutura da sua economia;
não consegue produzir internamente esses profissionais em quantidade suficiente e, portanto, precisa de atraír ao país médicos, enfermeiros, engenheiros, informáticos, enfim, a nata da comunidade científica que vai sendo laboriosamente formada noutros países;
logo, o governo alemão chegou a uma acordo para reduzir o salário mínimo desses trabalhadores.
Tem lógica?
Tem! Há que exercer uma despudorada exploração da mão-de-obra qualificada formada em países mais pobres, porque esses países assim terão que permanecer: pobres.
Inqualificável !!
Um dia a casa vem abaixo. Provavelmente tambem me cairá em cima, mas gostarei de ver.
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